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ISSN (on-line): 1806-3756

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Artigo Especial

Recomendações para oxigenoterapia domiciliar prolongada da Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia (2022)

2022 Brazilian Thoracic Association recommendations for long-term home oxygen therapy

Maria Vera Cruz de Oliveira Castellano1, Luiz Fernando Ferreira Pereira2, Paulo Henrique Ramos Feitosa3, Marli Maria Knorst4,5, Carolina Salim6,7, Mauri Monteiro Rodrigues1, Eloara Vieira Machado Ferreira8, Ricardo Luiz de Menezes Duarte9, Sonia Maria Togeiro10, Lícia Zanol Lorencini Stanzani3, Pedro Medeiros Júnior6, Karime Nadaf de Melo Schelini11, Liana Sousa Coelho12, Thiago Lins Fagundes de Sousa13, Marina Buarque de Almeida14, Alfonso Eduardo Alvarez15

DOI: 10.36416/1806-3756/e20220179

ABSTRACT

Some chronic respiratory diseases can cause hypoxemia and, in such cases, long-term home oxygen therapy (LTOT) is indicated as a treatment option primarily to improve patient quality of life and life expectancy. Home oxygen has been used for more than 70 years, and support for LTOT is based on two studies from the 1980s that demonstrated that oxygen use improves survival in patients with COPD. There is evidence that LTOT has other beneficial effects such as improved cognitive function, improved exercise capacity, and reduced hospitalizations. LTOT is indicated in other respiratory diseases that cause hypoxemia, on the basis of the same criteria as those used for COPD. There has been an increase in the use of LTOT, probably because of increased life expectancy and a higher prevalence of chronic respiratory diseases, as well as greater availability of LTOT in the health care system. The first Brazilian Thoracic Association consensus statement on LTOT was published in 2000. Twenty-two years la-ter, we present this updated version. This document is a nonsystematic review of the literature, conducted by pulmonologists who evaluated scientific evidence and international guidelines on LTOT in the various diseases that cause hypoxemia and in specific situations (i.e., exercise, sleep, and air travel). These recommendations, produced with a view to clinical practice, contain several charts with information on indications for LTOT, oxygen sources, accessories, strategies for improved efficiency and effectiveness, and recommendations for the safe use of LTOT, as well as a LTOT prescribing model.

Keywords: Oxygen; Hypoxia; Oxygen inhalation therapy; Delivery of health care.

RESUMO

Algumas doenças respiratórias crônicas podem evoluir com hipoxemia e, nessas situações, a oxigenoterapia domiciliar prolongada (ODP) está indicada como opção terapêutica com o objetivo principal de melhorar a qualidade e a expectativa de vida desses pacientes. O oxigênio domiciliar é usado há mais de 70 anos, e a ODP tem como base dois estudos da década de oitenta que demonstraram que o uso de oxigênio melhora a sobrevida de pacientes com DPOC. Existem evidências de que a ODP tem outros efeitos benéficos como melhora da função cognitiva e da capacidade de exercício e redução de hospitalizações. A ODP está indicada para outras doenças respiratórias que cursam com hipoxemia, segundo os mesmos critérios estabelecidos para a DPOC. Tem sido observado aumento no uso da ODP provavelmente pela maior expectativa de vida, maior prevalência de doenças respiratórias crônicas e maior disponibilidade de ODP no sistema de saúde. O primeiro consenso sobre ODP da Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia foi publicado em 2000; após 22 anos, apresentamos esta versão atualizada. Este documento é uma revisão não sistemática da literatura, realizada por pneumologistas que avaliaram evidências científicas e diretrizes internacionais sobre ODP nas diversas doenças que cursam com hipoxemia e em situações específicas (exercício, sono e viagens aéreas). Estas recomendações, tendo em vista a prática clínica, oferecem diversos quadros com informações sobre indicações, fontes de oxigênio, acessórios e estratégias para melhor eficiência, efetividade e uso seguro da ODP, assim como um modelo para sua prescrição.

Palavras-chave: Oxigênio; Hipóxia; Oxigenoterapia; Atenção à saúde.

INTRODUÇÃO
 
As doenças respiratórias crônicas podem evoluir com hipoxemia em repouso ou induzida pelo exercício, estando entre as principais causas de redução da qualidade e da expectativa de vida. Elas têm como consequência, especialmente devido às complicações infecciosas e internações, um alto custo para a assistência à saúde pública e suplementar, assim como para os pacientes e seus familiares. Para aqueles que progridem com hipoxemia, a prescrição da oxigenoterapia domiciliar prolongada (ODP) poderá trazer benefícios, como redução da sensação de dispneia, maior tolerância aos esforços e melhora na expectativa de vida.
 
O oxigênio domiciliar é usado empiricamente há mais de 70 anos, e o uso da ODP tem como base dois estudos de referência da década de 80: o do Nocturnal Oxygen Therapy Trial Group(1) e o do Medical Research Council Working Party.(2) Ambos demonstraram que o uso de oxigênio melhorava a sobrevida dos pacientes com DPOC.
 
A melhora da sobrevida com a ODP foi comprovada em pacientes com DPOC estável e hipoxemia crônica grave.(3-6) Nas últimas décadas, acumularam-se evidências de que a ODP tem outros efeitos benéficos, tais como redução da depressão, melhora da função cognitiva, melhora da qualidade de vida, melhora da capacidade de exercício e redução de hospitalizações.(7-16) Além disso, a ODP pode estabilizar ou mesmo reverter a hipertensão pulmonar (HP) e diminuir as arritmias cardíacas e a isquemia miocárdica em pacientes com DPOC.(17,18) Entretanto, o uso de ODP para outras doenças respiratórias que cursam com hipoxemia grave é baseado em uma extrapolação de dados relativos à DPOC, respaldados amplamente nos conhecimentos da fisiologia respiratória e respiração celular, que são idênticas independentemente da doença que causou a hipoxemia, assim como suas repercussões sistêmicas.
 
O primeiro consenso sobre ODP da Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia foi publicado em 2000 e continua como referência para muitos protocolos de oxigenoterapia em nosso meio.(19) Nesses últimos 22 anos, houve grande aumento no uso da ODP, em parte devido ao aumento da expectativa de vida e ao número crescente de pacientes diagnosticados com doenças pulmonares crônicas, com destaque para a DPOC e as doenças pulmonares intersticiais (DPI), além do fato de que a ODP está mais disponível no sistema de saúde. Além disso, nos últimos 2 anos, uma parcela de sobreviventes da COVID-19 precisou utilizar oxigênio por um período de transição ou se tornaram usuários crônicos.
 
No Brasil, os protocolos de fornecimento gratuito da ODP são municipais ou estaduais, e esse é um dos motivos para não dispormos de dados nacionais confiáveis sobre o número total de usuários. Nos EUA, mais de 1,5 milhão de pacientes faziam uso de ODP em 2018.(20)
 
Em nosso meio, o acesso à ODP é garantido pelas Leis Orgânicas do Sistema Único de Saúde (Leis Federais n. 8080/90 e n. 8142/90) que dispõem sobre as condições para a promoção, proteção e recuperação da saúde e a garantia desse direito a todo cidadão.
 
Foram reunidos 16 pneumologistas com expertise em oxigenoterapia, os quais revisaram de forma não sistemática a literatura e diretrizes internacionais em busca de evidências científicas sobre ODP nas diversas doenças que cursam com hipoxemia e sobre o uso de oxigênio em situações específicas (sono, exercício e viagens aéreas). Com ênfase na prática clínica elaboramos diversos quadros para facilitar o manejo dos pacientes com as principais indicações, fontes diversas para fornecimento de oxigênio e acessórios necessários, estratégias para melhor adesão, eficiência, efetividade, redução de custos e uso seguro da ODP, bem como um modelo para sua prescrição (Quadros 1-10 e Figura 1). Nestas recomendações, optamos pelo termo ODP apesar de entendermos que o sentido é mais amplo, ou seja, é suplementação de oxigênio para pacientes não hospitalizados que estejam em tratamento ambulatorial, para uso durante qualquer atividade, dentro ou fora do seu domicílio.
 



 
FISIOLOGIA E FISIOPATOLOGIA DA HIPOXEMIA
 
O oxigênio é fundamental na fosforilação oxidativa, promovendo a síntese de ATP para a produção de energia. O conteúdo arterial de oxigênio depende da pressão parcial de oxigênio inspirado, que, por sua vez, depende da pressão atmosférica, da ventilação, da troca gasosa realizada e da concentração de hemoglobina e de sua afinidade pelo oxigênio.(21)
 
Apenas uma pequena fração desse conteúdo (menos de 2%) encontra-se dissolvida no plasma, livre da hemoglobina. Ao nível do mar, a SpO2 de 96-98% corresponde a aproximadamente 20 mL de oxigênio a cada 100 mL de sangue.(22) A oferta de oxigênio aos tecidos, por sua vez, depende do conteúdo arterial de oxigênio e do débito cardíaco (DC). Quanto menor a concentração de oxigênio, maior a afinidade da hemoglobina pelo oxigênio e, consequentemente, menor a sua oferta aos tecidos. O aumento da temperatura corporal, a acidose por qualquer causa e/ou o aumento do 2,3-difosfoglicerato deslocam a curva de dissociação da hemoglobina para a direita, diminuindo a afinidade ao oxigênio e aumentando sua oferta para os tecidos.(23)
 
A avaliação da hipoxemia pode ser feita através do cálculo da diferença alvéolo-arterial de oxigênio (P(A-a)O2) ou do cálculo do índice de oxigenação (PaO2/FiO2). Em pacientes hipoxêmicos com P(A-a)O2 dentro da normalidade o provável mecanismo fisiopatológico é a presença de hipoventilação. Naqueles com aumento da diferença e sem correção da hipoxemia com suplementação de oxigênio e/ou com aumento da FiO2, sugere-se a presença de shunt cardíaco ou intrapulmonar. Já naqueles com resposta, deve-se considerar desequilíbrio na ventilação-perfusão (V/Q) ou alteração da difusão.(24)
 
A hipoxemia aguda ou crônica induz várias respostas fisiológicas com o objetivo de manter o fornecimento adequado de oxigênio aos tecidos. Quando a PaO2 encontra-se abaixo de 60 mmHg, ocorre aumento do estímulo ventilatório, elevando a PaO2 e reduzindo a PaCO2. Os leitos vasculares que irrigam o tecido hipóxico se dilatam, induzindo a taquicardia compensatória para aumento do DC e melhora da oferta de oxigênio. A vasculatura pulmonar se contrai com o intuito de melhorar a relação V/Q nas áreas comprometidas. Se não houver resolução da hipoxemia, ocorrerá ativação renal para aumentar a produção de eritropoetina e estimular a eritrocitose, elevando a capacidade de transporte e fornecimento de oxigênio. Esses benefícios iniciais podem ter efeitos prejudiciais em longo prazo, uma vez que a vasoconstrição prolongada, a eritrocitose e o aumento do DC podem causar HP e insuficiência ventricular direita, diminuindo a sobrevida. Além disso, o custo energético decorrente do aumento da ventilação e da demanda de oxigênio pode contribuir para a desnutrição em pacientes com DPOC.(21-24)
 
DEFINIÇÃO DE HIPOXEMIA
 
Ao nível do mar, a pressão barométrica é de 760 mmHg (ou 1 atm), a FiO2 é de 0,21 (ou denominada pela prática clínica de 21%, terminologia que é usada nos trabalhos científicos e que será utilizada neste documento) e a PaO2 é de 80-100 mmHg em indivíduos saudáveis. Portanto, a PaO2 depende da altitude, mas também deve ser corrigida para a idade (com o envelhecimento temos uma redução progressiva da PaO2). A hipoxemia é definida quando a PaO2 encontra-se abaixo do limite inferior da normalidade; entretanto, isso não significa obrigatoriamente que haverá necessidade de suplementação de oxigênio.
 
Classicamente, a indicação de ODP é baseada em trabalhos sobre DPOC e extrapolada para as demais doenças respiratórias crônicas. A oximetria de pulso é usada para triar os pacientes com hipoxemia em repouso; quando a SpO2 for ≤ 92%, está indicada a solicitação de gasometria arterial coletada em ar ambiente; além disso, também se deve avaliar a presença ou não de hipercapnia. Os critérios para indicação de ODP são os seguintes: hipoxemia grave com PaO2 ≤ 55 mmHg ou SaO2 ≤ 88% ou PaO2 ≤ 59 mmHg ou SaO2 ≤ 89% na presença de edema, cor pulmonale (HP) e/ou policitemia (hematócrito > 55%).(6,20,25) A duração diária da ODP deve ser de, no mínimo, 15 h/dia, incluindo o período de sono, e o fluxo de oxigênio deve ser o suficiente para elevar a PaO2 acima de 60 mmHg ou a SpO2 acima de 90%.(6,20,25)
 
Para hipoxemia induzida pelo exercício, utiliza-se como definição a redução ≥ quatro pontos da SpO2 durante o esforço, mesmo que a avaliação basal da SpO2 esteja dentro dos valores de normalidade. A ODP nessa situação é controversa na literatura, devendo-se considerar a melhora da sensação da dispneia após a suplementação de oxigênio ou para uso durante a reabilitação pulmonar.
 
Os mecanismos de ação da suplementação de oxigênio vão além da correção da hipoxemia e da melhor oferta de oxigênio para as células. Em indivíduos normais expostos a condições hipoxêmicas, o acúmulo de fatores induzidos pela hipoxemia no núcleo das células regula positivamente vários genes responsáveis pelas respostas fisiológicas à hipóxia, incluindo o remodelamento da vasculatura pulmonar, culminando em HP e aumento da eritropoiese.(26,27) Estudos limitados, baseados em modelos animais, sugerem que alguns dos efeitos terapêuticos da ODP são mediados pela inibição dos fatores induzidos pela hipoxemia.(28)
 
ODP EM PACIENTES COM DPOC
 
Embora estudos observacionais tenham sugerido benefícios da utilização de oxigênio suplementar na DPOC, dois ensaios clínicos randomizados (ECR) foram fundamentais para estabelecer as bases para o uso da ODP.(1,2) O estudo do Medical Research Council Working Party(2) acompanhou por 5 anos 87 pacientes com DPOC que apresentavam hipoxemia grave, hipercapnia e cor pulmonale. Os pacientes foram randomizados em dois grupos, grupo placebo (sem suplementação de oxigênio) e grupo tratamento com ODP por no mínimo 15 h/dia. No término do seguimento, a mortalidade foi 45,2% no grupo que recebeu oxigênio e 66,7% no grupo controle.(2) O ECR do Nocturnal Oxygen Therapy Trial Group(1) randomizou em dois grupos 203 pacientes hipoxêmicos com DPOC: suplementação contínua de oxigênio ou somente durante a noite por 12 h. O tempo de seguimento foi de 12 meses, e a mortalidade foi maior no grupo que recebeu oxigênio noturno (razão de risco = 1,94; p = 0,01).
 
Os estudos que demonstraram aumento de sobrevida com a ODP incluíram pacientes com hipoxemia grave (PaO2 ≤ 55 mmHg ou SaO2 ≤ 88%). Por outro lado, o uso da ODP em portadores de DPOC com hipoxemia moderada não mostrou benefícios na sobrevida.(29-31) Além desses estudos, outros realizados em indivíduos com DPOC demonstram que a ODP tem outros benefícios em pacientes hipoxêmicos graves com DPOC, tais como melhora da qualidade de vida, da capacidade de exercício e da capacidade cognitiva, assim como redução da resistência vascular pulmonar, da pressão no átrio direito, da morbidade cardiovascular e da frequência de hospitalizações.(13,15-18,32-34)
 
Como mencionado anteriormente, os mecanismos de ação da suplementação de oxigênio vão além da correção da hipoxemia e da melhor oferta de oxigênio para as células. Em indivíduos normais expostos a condições hipoxêmicas, o acúmulo de fatores induzidos pela hipoxemia no núcleo das células regula positivamente vários genes responsáveis pelas respostas fisiológicas à hipóxia, incluindo o remodelamento da vasculatura pulmonar, que leva à HP e aumento da eritropoiese. (26,27) Estudos limitados, baseados em modelos animais, sugerem que alguns dos efeitos terapêuticos da ODP são mediados pela inibição dos fatores induzidos pela hipoxemia.(28)
 
Na DPOC, a ODP é indicada para pacientes com hipoxemia grave persistente, clinicamente estáveis, e com terapia medicamentosa otimizada por, no mínimo, um mês. Aqueles instáveis como, por exemplo, após uma exacerbação recente, devem receber suplementação de oxigênio temporariamente até reavaliação clínica em 1-3 meses após a descompensação, uma vez que cerca de 50% não necessitarão de ODP no seguimento. (35,36) Recomenda-se que todos os pacientes avaliem a necessidade de aumentar o fluxo de oxigênio durante o exercício e o sono. Os fluxos excessivos de oxigênio devem ser evitados para minimizar os efeitos colaterais do oxigênio, especialmente a piora da hipercapnia em pacientes retentores de gás carbônico, com aumento do risco de depressão do sensório e, em casos extremos, de coma por narcose,(37) sugerindo-se manter a SpO2 em 90-92%.
 
A oximetria de pulso é usada para triar os pacientes com hipoxemia; quando a SpO2 for ≤ 92%, é indicada a realização de gasometria arterial. A gasometria arterial é necessária para indicar a ODP e também é útil para detectar a presença de hipercapnia. Como mencionado anteriormente, os critérios para indicação de ODP são PaO2 ≤ 55 mmHg ou SaO2 ≤ 88% ou PaO2 ≤ 59 mmHg ou SaO2 ≤ 89% na presença de edema, HP, cor pulmonale e/ou policitemia (hematócrito > 55%).(6,20,25)
 
Os pacientes hipoxêmicos com suspeita de síndrome da apneia obstrutiva do sono (AOS) ou de hipoventilação alveolar devem ser encaminhados para polissonografia. Vale ressaltar que nessas situações a correção da hipoxemia pode ocorrer somente com o uso de ventilação não invasiva, mesmo sem suplementação de oxigênio.(38)
 
Em relação aos fumantes, esses devem ser encaminhados para programas de cessação do tabagismo e orientados a não fumar durante o uso de oxigênio, não porque seja um gás inflamável, mas por ser um acelerador da combustão e aumentar o risco de incêndios e explosões.(39) Além disso, fumar aumenta a concentração de monóxido de carbono no sangue, que tem alta afinidade com a hemoglobina e reduz o transporte do oxigênio.(6,25,27)
 
A adesão ao tratamento é fundamental para alcançar os benefícios esperados com a ODP. A adesão pode variar de 45% a 70% e pode ser melhorada através da identificação de barreiras, facilitadores e atitudes dos prescritores.(40) Muitos pacientes usam o oxigênio por menos de 15 h/dia e/ou com fluxos abaixo do prescrito por seus médicos devido à falta de orientações sobre a sua doença e o papel do oxigênio no tratamento, pouca melhora dos seus sintomas ou medo de ficar dependente da ODP.(6,20,25,41,42) A qualidade do suporte da equipe de saúde melhora a adesão do paciente ao uso correto do oxigênio (Quadro 6). Da mesma maneira que a indicação deve ser bem avaliada, a suspensão da ODP deve ser criteriosa. Oba et al.(43) observaram que apenas 35% dos pacientes foram reavaliados corretamente e que a taxa de reavaliação adequada foi significativamente maior entre os pneumologistas do que entre os generalistas (65% vs. 17%).
 

 

 
ODP NAS DEMAIS DOENÇAS PULMONARES CRÔNICAS
 
Fibrose cística
 
Na fibrose cística (FC) a infecção crônica e recorrente das vias aéreas causa danos pulmonares que resultam em hipoxemia crônica, sendo a insuficiência respiratória a principal causa de morte.(44,45) A proporção de pacientes com FC em uso de oxigênio é desconhecido, e o impacto da ODP na sobrevida e na qualidade de vida desses pacientes permanece incerto.(45) Uma revisão(45) incluindo 11 estudos sobre o uso de oxigênio em pacientes com FC, com apenas 1 estudo sobre seu benefício de longo prazo, concluiu que a ODP não teve efeito perceptível sobre a mortalidade, frequência de hospitalização e progressão da doença comparado ao grupo sem uso de oxigênio, apesar da redução do absenteísmo na escola e no trabalho.
 
Há poucas evidências para a indicação da ODP em pacientes com FC avançada, ainda que em curto prazo tenha sido demonstrada alguma melhora na PaO2 durante o sono e o exercício.(46) Nas diretrizes da Cystic Fibrosis Foundation,(47) é sugerido que pacientes com FC avançada sejam avaliados anualmente quanto a hipoxemia de esforço e noturna, hipercapnia e HP, sendo preconizado o uso de oxigênio em pacientes com SpO2 ≤ 88% durante o sono ou induzida pelo exercício. As diretrizes da British Thoracic Society(6) recomendam que sejam utilizados os mesmos critérios de indicação usados para a DPOC na FC.
 
DPI
 
A DPOC e as DPI são as principais indicações de ODP. (48) Os grandes e recentes ECR em fibrose pulmonar idiopática concluíram que 21-28% dos participantes dos estudos receberam terapia de oxigênio suplementar. (49,50) No entanto, essas taxas não diferenciaram hipoxemia em repouso ou isolada de esforço. Um estudo retrospectivo com 400 pacientes na Austrália em clínicas especializadas em DPI relatou uma prevalência de hipoxemia em repouso de 3,5%.(51)
 
As definições de hipoxemia de esforço variam amplamente, mas independentemente disso, ela é comum em pacientes com DPI, inclusive sendo mais grave do que na DPOC quando comparada com a gravidade do comprometimento da função pulmonar. Além disso, a hipoxemia de esforço é um fator de pior prognóstico para esses pacientes.(52-55) A hipoxemia noturna acomete aproximadamente 27% dos pacientes, e a associação com distúrbios respiratórios do sono pode aumentar essa prevalência.(56)
 
O benefício da ODP nas DPI é incerto. Uma revisão sistemática(57) não mostrou efeitos consistentes sobre a dispneia durante o esforço, embora a capacidade de exercício tenha melhorado. Os estudos sobre uso de ODP em DPI têm alto risco de viés, não sendo possível estimar o seu impacto na sobrevida.(57) As diretrizes clínicas atuais têm consistentemente recomendado a ODP para pacientes com DPI com os mesmos critérios utilizados para pacientes com DPOC.(4,6,58-62)
HP
 
A HP pré-capilar é um diagnóstico hemodinâmico que engloba hipertensão arterial pulmonar (HAP, grupo I), HP por doenças respiratórias (grupo III) e HP tromboembólica crônica (grupo IV), e pode evoluir com hipoxemia.(63) Há vários mecanismos fisiopatológicos envolvidos na hipoxemia, como a redução do DC dos pacientes com HP, alteração da relação V/Q, shunt direita-esquerda e redução da capacidade de difusão do oxigênio, podendo ser intensificada pela vasoconstrição pulmonar.(64-66)
 
Um estudo realizado por Ulrich et al.(64) demonstrou que o uso de oxigênio suplementar na HAP e na HP tromboembólica crônica resultou em benefício na capacidade de exercício e na qualidade de vida. Além disso, houve melhora na SpO2 noturna e nos transtornos do sono naqueles com hipoxemia induzida pelo exercício e distúrbios do sono (apneias do sono e hipoxemia noturna). Embora o tempo de suplementação de oxigênio tenha sido curto (até 5 semanas), não se sabe se os efeitos positivos da suplementação de oxigênio durante o exercício se refletirão em benefícios em longo prazo.(67,68) Um estudo observacional sobre HAP concluiu que o risco de morte foi significativamente maior entre os pacientes com DLCO acentuadamente reduzida (< 40% do predito) sem suplementação de oxigênio quando comparados com os que receberam a suplementação. No entanto, esse último grupo foi medicado com mais fármacos específicos para HAP, caracterizando um viés de seleção.(69)
 
O uso de ODP em pacientes adultos com síndrome de Eisenmenger permanece controverso, com poucos dados na literatura. Um estudo prospectivo controlado(70) não mostrou impacto do uso de oxigênio noturno sobre capacidade de exercício, história natural da doença e sobrevida no período de seguimento de 2 anos. Assim, o uso da ODP é facultativo nesses pacientes, e a indicação deverá ser individualizada.(70)
 
As recomendações das diretrizes sobre o uso de oxigênio suplementar na HP são controversas provavelmente devido à ausência de estudos de longo prazo.(71) Apesar de evidências limitadas, sugere-se que a ODP seja prescrita para pacientes com HP e PaO2 < 60 mmHg, considerando o benefício sintomático e a correção da dessaturação aos esforços.(6,25)
 
ODP NAS DOENÇAS CRÔNICAS AVANÇADAS E CUIDADOS PALIATIVOS
 
Promover intervenções precoces que não apenas aliviem os sintomas causados pela progressão da doença, mas que também reduzam idas aos serviços de emergência e hospitalizações e que garantam suporte no estágio final de vida é fundamental no planejamento dos cuidados paliativos. Idealmente, isso exige a participação de uma equipe multidisciplinar composta por médicos, fisioterapeutas, enfermeiros, psicólogos e assistentes sociais, com conhecimento e preparo apropriados; contudo, o médico responsável com adequada compreensão do quadro do paciente já é capaz de elaborar o manejo da progressão da doença, priorizando o controle dos sintomas.(72)
 
Em relação ao uso de oxigenoterapia em cuidados paliativos, a indicação requer, além da avaliação das causas passíveis de reversão e de critérios objetivos como a SpO2, uma avaliação global das necessidades do paciente e de um plano terapêutico individualizado. Esse deve ser elaborado de maneira compartilhada entre a equipe, o paciente e os cuidadores.(73)
 
A ODP poderá aliviar a dispneia se essa estiver associada à hipoxemia, lembrando que a dispneia é uma sensação subjetiva e muitas vezes independente da hipoxemia.(4) O controle de sintomas de pacientes com doenças crônicas avançadas é um recurso terapêutico amplamente discutido. Estudos científicos e recomendações atuais demonstram utilidade limitada da oxigenoterapia em algumas situações.(74) Na prática, observa-se que os benefícios da oxigenoterapia são superestimados, enquanto os seus possíveis riscos e limitações são subestimados. Um estudo observacional com 114 pacientes em fase final de vida não revelou benefício na utilização de oxigênio, não havendo diferença entre a administração de oxigênio ou de ar medicinal para o alívio dos sintomas quando a PaO2 > 55 mmHg. (75) A eventual melhora seria decorrente do contato da face com ar fresco, com estimulação do nervo trigêmeo e diminuição da dispneia; portanto, sem benefício da oxigenoterapia nesse contexto. As diretrizes da British Thoracic Society,(6) por exemplo, recomendam que o uso de oxigênio seja restrito àqueles pacientes com SpO2 < 90% em ar ambiente e que não há papel para o monitoramento rotineiro da SpO2 desde que o paciente esteja confortável nos últimos dias de vida.(76)
 
Dentre os efeitos colaterais da oxigenoterapia, destacam-se a hipercapnia aguda com efeitos centrais e a lesão pulmonar por estresse oxidativo que ocorre, em geral, com fluxos elevados de oxigênio.(77) O uso do equipamento pode também levar à restrição de atividades, ressecamento das mucosas e desconforto ocasionado por cânulas nasais ou máscaras faciais. (78) As limitações causadas pelo uso da oxigenoterapia devem ser avaliadas criteriosamente pela equipe de saúde multiprofissional, visto que algumas delas podem ter grande impacto na qualidade do fim de vida da pessoa com doença avançada.(74)
 
O controle da dispneia dos pacientes com doença crônica avançada é baseado na avaliação objetiva da dispneia, aplicação de técnicas de conservação de energia, otimização do tratamento da doença de base e de suas complicações, oxigenoterapia quando houver hipoxemia, reabilitação cardiopulmonar e uso de ventilação não invasiva.(78) O uso de opioide oral, notadamente morfina e di-hidrocodeína, em doses não superiores a 30 mg/dia de morfina ou equivalente, tem sido considerado benéfico na paliação da dispneia, sem risco elevado de depressão respiratória, apesar de seus efeitos adversos como sonolência, náuseas, vômitos e constipação intestinal.(79,80)
 
ODP NA PÓS-COVID-19
 
O SARS-CoV-2 infectou e causou a morte de milhões de pessoas no mundo, com grande impacto no sistema de saúde de diversos países, inclusive por falta de fornecimento de oxigênio. Durante a pandemia, alguns conceitos relacionados ao uso do oxigênio foram muito citados e discutidos, como a hipoxemia silenciosa(81-83) e a oxigenoterapia de alto fluxo.(84,85) A hipoxemia silenciosa ocorreu mais em idosos e em portadores de diabetes; nesses pacientes, a resposta hiperventilatória à hipoxemia pode estar atenuada. Uma hipótese ainda não confirmada seria a possível ação direta do vírus no centro respiratório, reduzindo a resposta à hiperventilação. O desvio da curva de dissociação da oxi-hemoglobina para a esquerda nos infectados poderia explicar o fato de alguns pacientes terem maior tolerância à hipoxemia do que outros.(81-83)
 
Muitos pacientes com a síndrome pós-COVID que evoluíram com sequelas após a alta hospitalar necessitaram ODP. Um estudo apontou que 13,2% dos pacientes que receberam alta hospitalar tiveram indicação de ODP e que essa necessidade foi progressivamente reduzida com a recuperação clínica desses pacientes.(86) Em outro estudo, os fatores de risco relacionados com a necessidade de ODP após a alta hospitalar de pacientes com COVID-19 moderada a grave foram os seguintes: sexo masculino; idade ≥ 50 anos; e ≥ 3 comorbidades, principalmente pneumopatia prévia.(87)
 
As diretrizes nacionais e internacionais sobre ODP não dispõem de orientações específicas para a alta hospitalar após a infecção por SARS-CoV-2. Uma força-tarefa da European Respiratory Society/American Thoracic Society (ATS)(88) recomenda que pacientes hospitalizados com COVID-19 sejam avaliados quanto à necessidade de suplementação de oxigênio em repouso e durante os esforços, visto que é esperada uma melhora progressiva das trocas gasosas; entretanto, alguns pacientes necessitarão de oxigênio após a alta hospitalar. Outra possibilidade é a presença de dessaturação apenas durante os esforços, devendo-se avaliar a necessidade ou não de suplementação de oxigênio.(88) A detecção da redução da SpO2 justifica a investigação de comorbidades pulmonares e cardiovasculares que não eram conhecidas anteriormente. É recomendada a reavaliação precoce após a alta hospitalar uma vez que a necessidade de ODP pode ser de curta duração.(88)
 
ODP EM PEDIATRIA
 
As crianças apresentam particularidades relevantes quanto à indicação, manutenção e suspensão da oxigenoterapia. Portanto, as recomendações usadas em adultos não se aplicam às crianças. As principais diferenças da ODP em crianças com relação aos adultos são as seguintes(89-93):

  • Devem ser considerados o crescimento físico e o desenvolvimento neurológico.

  • A evolução de algumas doenças que cursam com hipoxemia na infância é geralmente favorável; por esse motivo, muitas crianças necessitam ODP apenas por um período limitado de tempo.

  • A maioria das condições clínicas é peculiar dessa faixa etária, embora crianças mais velhas e adolescentes possam apresentar indicações semelhantes às dos adultos.

  • A indicação e a monitorização do uso do oxigênio são realizadas por oximetria de pulso, e não por gasometria arterial.

  • São necessários equipamentos específicos para permitir fluxos baixos de oxigênio.

  • Muitas crianças requerem oxigenoterapia apenas durante a noite, sendo necessárias menos horas do que as normalmente indicadas na ODP dos adultos.

  • Períodos como atividades físicas (que inclui o banho), sono, e até mesmo as mamadas, podem levar a quedas da saturação; portanto, deve ser individualizado o fornecimento de maior fluxo de oxigênio nessas ocasiões.

  • Todas as crianças requerem supervisão de um adulto.

  • A oxigenoterapia deve ser fornecida na escola para as crianças em idade escolar.



DBP
 
A definição mais atual de DBP é o diagnóstico por alterações radiográficas persistentes do parênquima pulmonar em recém-nascidos prematuros ≤ 32 semanas de idade gestacional ou com 36 semanas de idade gestacional corrigida que requerem suporte respiratório por três ou mais dias para manter a saturação arterial em 90-95%.(94,95)
A DBP é a indicação mais frequente de ODP em crianças e ocorre em aproximadamente 40% dos recém-nascidos de muito baixo peso (< 1.000 gramas). (93,96-98) Sua incidência não diminuiu ao longo dos anos, justamente pelos avanços importantes nos cuidados neonatais, o que permite cada vez mais a sobrevivência de prematuros extremos.(94-97)
Dentre os benefícios da utilização de ODP, destacam-se melhora do crescimento físico, do desenvolvimento neurológico e do padrão de sono, assim como redução da resistência das vias aéreas, da pressão da artéria pulmonar, do risco de morte súbita e dos despertares noturnos. Além disso, manter a criança junto com a família em casa propicia melhor vínculo emocional e reduz o risco de infecções hospitalares.(89,93)
 
Indica-se a ODP para o paciente clinicamente estável, que mantenha dependência de oxigênio (SpO2 ≤ 92% em ar ambiente) e não apresente hipercapnia. Dois importantes estudos(99,100) demonstraram que manter a SpO2 > 95% se relacionava a pior desfecho, com necessidade de manter a ODP por mais tempo. Desde então, tem-se evitado manter a SpO2 > 95%. (99,100) Por outro lado, outro estudo(101) comparou a meta de SpO2 de 85-89% com a de 91-95% para crianças nascidas antes de 28 semanas de gestação e demonstrou que a meta de SpO2 < 90% estava associada a um risco aumentado de óbito antes da alta, levando a uma interrupção precoce do estudo. (101) As recomendações atuais são de que a SpO2 fique entre 90% e 95%, sem oscilações frequentes durante o sono ou mamadas. (102,103)
 
A ODP deve ser considerada para os pacientes com DBP ≥ 36 semanas de idade gestacional corrigida, clinicamente estáveis, e com ganho ponderal ≥ 20 gramas por dia.
 
Inicia-se com um fluxo de 1-2 L/min, mantendo a SpO2 entre 92% e 95%. A diminuição do oxigênio pode ser considerada após 4 semanas, caso a criança esteja estável e mantendo ganho adequado de peso. Deve-se reduzir o fluxo em 0,25-0,1 L/min, inicialmente no período que a criança esteja acordada, desde que a SpO2 permaneça ≥ 92%.(97)
 
FC
 
A indicação da ODP na FC deve ser individualizada, e, de modo geral, crianças e adolescentes devem recebê-la via cânula nasal, respeitando adaptações pertinentes, como no caso de pacientes com traqueostomia.(104) A oxigenoterapia reduzirá a dispneia e retardará o surgimento de cor pulmonale. Escolares e adolescentes com PaO2 ≤ 55 mmHg ou SpO2 ≤ 88% devem receber oxigenoterapia com o menor fluxo possível para manter SpO2 > 90%.(90,104) Publicações recentes da ATS recomendam ponderar sobre a prescrição da ODP para pacientes pediátricos com FC que mantenham saturação em 90-93% mas com dispneia aos esforços. (89,90) A prescrição para lactentes e pré-escolares estará indicada para se manter a SpO2 ≥ 93%, de forma semelhante aos pacientes com DBP.(92)
 
Desmame da ODP em pediatria
 
O desmame da ODP poderá ocorrer com o crescimento e a maturação pulmonar, e a possível melhora do agravo pulmonar. O médico deve avaliar o paciente clinicamente e assegurar-se de que o desmame é viável pelas medidas da SpO2.(89,90) O desmame será programado semanalmente com redução gradual do fluxo de oxigênio ou pela retirada da ODP em períodos do dia de forma crescente, mantendo as visitas médicas semanais a mensais para a garantia do desmame de forma segura.(89) Os lactentes recebendo fluxos de até 0,1 L/min, os pré-escolares recebendo fluxos de 0,1 a 0,25 L/min e as crianças maiores recebendo fluxos de 0,25 a 0,5 L/min podem estar aptas a descontinuar a ODP. Após a retirada do oxigênio, é fortemente sugerida a realização de um estudo de oximetria noturna com aparelho pediátrico apropriado.(89,90) Os equipamentos utilizados na ODP devem permanecer na residência do paciente por um período de tempo que garanta sua segurança(89); a recomendação nacional sugere por no mínimo 3 meses após a suspensão da ODP.(92) Em seguida, o controle de oximetria deverá ser realizado em duas ocasiões com intervalo de um mês e, se essa se mantiver adequada, o oxigênio e os equipamentos poderão ser retirados da residência do paciente.(92)
 
ODP EM PACIENTES COM DISTÚRBIOS RESPIRATÓRIOS DO SONO
 
Os distúrbios respiratórios do sono são caracterizados por eventos respiratórios repetitivos relacionados ao sono, cursando com hipoxemia intermitente e fragmentação do sono, abrangendo a AOS, a apneia central do sono (ACS) e a hipoventilação relacionada ao sono, sendo a AOS o distúrbio mais prevalente.(105)
 
A intensidade e a frequência de hipoxemia intermitente durante os episódios recorrentes de apneias/hipopneias durante o sono comumente levam a consequências cardiovasculares, metabólicas e neurocognitivas, impactando na morbidade e na mortalidade.(106)
 
A pressão positiva nas vias aéreas (PAP) constitui a terapia padrão por manter a patência da via aérea superior e corrigir a hipoxemia intermitente.(105,107) Contudo, apesar de ser um tratamento extremamente eficaz, a adesão é limitada.(106,107,108)
 
AOS
 
Uma revisão sistemática e meta-análise avaliando ECR mostrou a superioridade da CPAP em comparação com o uso de oxigênio noturno na redução do índice de apneia-hipopneia (IAH) em indivíduos com AOS.(109) Entretanto, estudos prévios documentaram o prolongamento da duração dos eventos respiratórios obstrutivos durante o uso de oxigênio noturno.(38,110) Em uma recente meta-análise, a oxigenoterapia suplementar foi menos eficaz na redução do IAH, do tempo de SpO2 < 90% e da pressão arterial sistêmica, assim como na melhora da qualidade do sono em comparação com CPAP.(111) O oxigênio pode ser utilizado conjuntamente à terapia com PAP quando a SpO2 persistir ≤ 88% por pelo menos 5 min, apesar da titulação adequada e total controle dos eventos obstrutivos (iniciar oxigênio a 1 L/min e titular para manter a SpO2 em 88-94%).(112)
 
ACS
 
Estudos prévios relataram o efeito benéfico da suplementação de oxigênio na ACS associada à respiração de Cheyne-Stokes em indivíduos com insuficiência cardíaca congestiva (ICC).(113,114) Duas meta-análises compararam o efeito de CPAP, servoventilação adaptativa (SVA) e suplementação de oxigênio no IAH e na fração de ejeção do ventrículo esquerdo (FEVE) em pacientes com ICC e ACS associada à respiração de Cheyne-Stokes.(115,116) A primeira meta-análise(115) com 919 pacientes demonstrou que a SVA tinha maior probabilidade de reduzir o IAH, seguida por suplementação de oxigênio e CPAP. Na segunda meta-análise,(116) com a inclusão de 951 pacientes, verificou-se que CPAP e SVA foram igualmente eficazes na melhora da FEVE, o que não ocorreu com o uso de oxigênio noturno. Embora a SVA possa melhorar o IAH e a FEVE, um estudo observou aumento da mortalidade em indivíduos com ICC-ACS e FEVE ≤ 45%.(117) A oxigenoterapia noturna pode não eliminar os eventos obstrutivos que frequentemente coexistem com os eventos centrais em pacientes com ICC.(118) Na ACS, o oxigênio noturno reduz efetivamente o IAH secundário às ACS e melhora a SpO2, podendo servir como alternativa à terapia com PAP.(108,119) No entanto, faltam estudos de longo prazo para avaliar o impacto da ODP na ACS.
 
Síndrome de sobreposição DPOC e AOS
 
A síndrome de sobreposição DPOC e AOS cursa com hipoxemia noturna mais intensa do que a AOS ou a DPOC isoladamente, levando a pior prognóstico.(120,121) A oxigenoterapia noturna pode ser indicada quando a hipóxia noturna persiste nos pacientes com DPOC, apesar do tratamento adequado.(38,108,110) Contudo, por suprimir o impulso respiratório hipóxico, o oxigênio pode contribuir para o prolongamento da duração da apneia, levando a hipercapnia e acidose em pacientes com AOS, especialmente na síndrome de sobreposição ou na hipoventilação.(38,108,110) O tratamento atual de pacientes com sobreposição inclui terapia regular com CPAP, observando-se que CPAP está indicada na AOS de grau acentuado ou moderado quando associada a sintomas ou hipoxemia noturna significativa. Não há indicação de CPAP na OAS leve.(120)
 
Em estudos observacionais, os pacientes com sobreposição DPOC e AOS tratados com CPAP tiveram taxas de sobrevida comparáveis àquelas de pacientes apenas com DPOC, enquanto aqueles com essa sobreposição não tratados com CPAP exibiram mortalidade mais elevada.(121)
 
Síndrome de hipoventilação por obesidade
 
A síndrome de hipoventilação por obesidade (SHO) constitui a tríade obesidade, anormalidade das trocas gasosas (hipercapnia) e exclusão de outras causas de hipoventilação. Em relação ao tratamento, as publicações mais recentes da ATS e da European Respiratory Society recomendam que o uso de CPAP, mais do que BiPAP, seja oferecido como primeira linha de tratamento para pacientes ambulatoriais com SHO e AOS grave, estando essa associação presente em mais de 70% dos pacientes com SHO.(122,123) No entanto, a ventilação não invasiva é preferida na minoria dos pacientes de SHO sem AOS ou com formas mais leves de AOS (aproximadamente < 30%). A oxigenoterapia isolada na SHO deve ser evitada devido ao efeito prejudicial na ventilação e ao risco de precipitar insuficiência respiratória hipercápnica.(123)
 
SUPLEMENTAÇÃO DE OXIGÊNIO NO EXERCÍCIO E NA REABILITAÇÃO PULMONAR
 
A oxigenação tecidual depende de uma sequência de fenômenos que acontecem desde a captação de oxigênio do ar atmosférico para os pulmões, seguida da oferta adequada de oxigênio para a periferia, por meio do transporte de hemoglobina e fluxo sanguíneo adequado, até a entrega para a maquinaria energética mitocondrial para a síntese aeróbica de ATP e sua utilização pelos músculos.(124)
 
Os principais efeitos da suplementação de oxigênio durante o exercício na DPOC e na DPI são os seguintes: efeito central, com prevenção da redução da oxigenação cerebral; efeito ventilatório, com menor impulso ventilatório por menor estímulo do quimiorreceptor carotídeo e redução da hiperinsuflação dinâmica; efeito cardiocirculatório, pela vasodilatação pulmonar, aumento do DC e diminuição da pressão da artéria pulmonar; e efeito muscular, com redução da disfunção muscular, menor produção de ácido lático e diminuição da ativação dos metaboergoreceptores musculares, diminuindo o estímulo ventilatório.(125-127) A modulação desses mecanismos tem o potencial de aliviar os sintomas como a dispneia e a fadiga, além de melhorar a qualidade de vida e a capacidade de exercício, principalmente durante a reabilitação. Entretanto, dados controversos ainda são descritos na literatura em relação à suplementação de oxigênio, especialmente para pacientes normoxêmicos com ou sem hipoxemia induzida pelo esforço.
 
DPOC
 
A hipoxemia induzida pelo exercício é comum na DPOC, estando presente em quase metade dos pacientes encaminhados para reabilitação pulmonar (RP). Em geral, esses pacientes não toleram exercícios de alta intensidade, muitas vezes sendo necessário diminuir a intensidade do treinamento, o que poderia limitar a eficácia da RP.(128) Na avaliação da suplementação aguda de oxigênio, 124 pacientes com DPOC moderada a grave, divididos em normoxêmicos e em hipoxêmicos em repouso ou somente durante o exercício, foram submetidos a um teste de caminhada de seis minutos (TC6) com oxigênio suplementar ou com ar comprimido. (129) Os dois grupos hipoxêmicos se beneficiaram do oxigênio suplementar por cateter nasal (CN), com aumento da capacidade de exercício, contudo sem atingir diferença clinicamente significante (> 30 m).(129) Ao se comparar o efeito da suplementação de oxigênio com a de ar comprimido durante o treinamento de pacientes normoxêmicos sem hipoxemia induzida pelo exercício (n = 29), a suplementação de oxigênio permitiu maior intensidade de treinamento e maior capacidade de exercício (endurance em cicloergômetro: 14,5 min vs. 10,5 min; p < 0,05) durante um programa de RP.(130) É interessante notar que os respondedores são aqueles com maior dessaturação(131) e menor capacidade de exercício(132) na avaliação basal ou que apresentaram ganho > 10% na distância percorrida na avaliação basal após a suplementação de oxigênio.(132)
 
Ao contrário desses resultados, um estudo multicêntrico com 111 participantes com DPOC moderada a grave e hipoxemia induzida durante o TC6 (SpO2 < 90%), a suplementação de oxigênio não resultou em aumento da capacidade de exercício ou da qualidade de vida quando comparada à suplementação de ar comprimido. Vale ressaltar que ambos os grupos obtiveram benefícios após o treinamento físico, com aumentos significativos na capacidade de exercício e na qualidade de vida.(133) Entretanto, questiona-se se o nível de intensidade proposto pelo estudo para o treinamento daqueles pacientes foi de fato alcançado. (134) Considerando-se pacientes com DPOC grave a muito grave e com hipoxemia em repouso (n = 50), foi avaliada a suplementação de oxigênio por meio de um sistema de fluxo constante vs. titulação automática de oxigênio.(135) Essa última acarretou melhor oxigenação, maior tempo de endurance ao caminhar, maior oxigenação observada por SpO2 e PaO2, menor sensação de dispneia e sem impacto na PaCO2. Os respondedores à titulação automática de oxigênio tenderam a apresentar menor valor de lactato, menos fadiga em membros inferiores no final do teste de endurance e menor sensação de dispneia. (135) Já em relação ao treinamento com máscara de Venturi ou CN de alto fluxo (CNAF), ambos os grupos obtiveram benefícios do programa de treinamento físico com melhora significativa na capacidade de exercício, sintomas e qualidade de vida.(136)
 
Numa revisão sistemática e meta-análise recente, na qual foram incluídos 7 estudos para a avaliação de oxigênio suplementar e RP, foi demonstrado que a suplementação de oxigênio durante a RP não melhorou a capacidade de exercício, os escores de dispneia ou a qualidade de vida, mas com a ressalva de nível de evidência fraca, principalmente pela intervenção heterogênea nos estudos.(137)
 
Apesar dos resultados contraditórios, de acordo com as diretrizes internacionais, os pacientes que recebem ODP devem continuar com a suplementação de oxigênio durante o treinamento físico e elevar o fluxo à medida que a demanda de oxigênio aumente durante o exercício.(6,20,25) Em alguns casos, deve ser considerada uma avaliação formal que demonstre melhora na tolerância ao exercício com testes de suplementação aguda de oxigênio.(6,20,25)
 
DPI
 
Pacientes com DPI têm redução da tolerância ao exercício avaliada por TC6, consumo máximo de oxigênio e tempo de endurance. Uma menor capacidade de exercício tem relação com pior sobrevida. Na avaliação de suplementação de oxigênio aguda, pacientes com DPI leve a moderada (n = 72) com hipoxemia induzida por exercício, comparando-se à suplementação de oxigênio com a de ar comprimido, houve aumento no tempo de endurance, menor dessaturação e menos sintomas com o uso de oxigênio.(138) Foram considerados respondedores aqueles que atingiram um menor nadir de SpO2 no TC6 na avaliação basal com ar comprimido(138); resultado semelhante foi encontrado comparando-se o valor de FiO2 = 50% com a suplementação de ar comprimido.(139)
 
Sabe-se que pacientes com DPI podem ter dessaturação significativa, atingindo valores muito baixos (SpO2 < 80% no esforço), nem sempre sendo possível manter a SpO2 > 90% com oxigênio via CN. Comparando-se à suplementação de oxigênio de diferentes CN com uma CN com reservatório com um pendente interno incorporado ao seu lúmen (Oxymizer; Drive DeVilbiss Healthcare, Port Washington, NY, EUA) em pacientes em oxigenoterapia ambulatorial (n = 21), houve melhora da tolerância ao exercício, mas sem impacto na dispneia.(140) Apesar da melhora na oxigenação, ela não foi sustentada durante o exercício mesmo com o uso do Oxymizer.(140) Nesse sentido, um estudo com pacientes com DPI grave (n = 25) testados em ar ambiente, com suplementação de oxigênio via CN a 4 L/min ou via CNAF com FiO2 = 50% a 30-50 L/min (aquecido a 34°C e umidificado), demonstrou que o uso da CNAF aumentou o tempo de endurance comparado ao dos outros dois grupos, além de ser associado com menor cinética de dessaturação de oxigênio, menor resposta cronotrópica e menor sensação de dispneia e de fadiga nas pernas.(141) A hiperóxia (FiO2 = 30-60%), comparada a FiO2 = 21%, também demonstrou aumento no tempo de endurance, menor ventilação, menor sensação de dispneia(142) e melhora significativa da oxigenação muscular avaliada pela fadigabilidade, com diminuição da sensação de desconforto nas pernas ao esforço.(127)
 
Embora a capacidade de exercício tenha sido aumentada, uma revisão sistemática avaliando o impacto do oxigênio suplementar nos resultados do treinamento em pacientes com DPI mostrou que a oxigenoterapia não tem efeito na dispneia durante o exercício.(57) Uma vez que altas taxas de fluxo de oxigênio são frequentemente necessárias nesse grupo de pacientes, é importante selecionar os dispositivos de fornecimento de oxigênio apropriados (por exemplo, CN ou máscara facial simples), e, quando uma concentração maior de oxigênio for necessária, outros dispositivos deverão ser avaliados, como máscaras não reinalantes ou CNAF, essa última indicada de acordo com protocolos institucionais.
 
HP
 
O benefício e a segurança da RP em pacientes com HP têm sido reportados principalmente nos últimos 15 anos. Nas diretrizes para RP em HP,(143) baseadas nos protocolos publicados, a oferta de oxigênio foi realizada de acordo com a indicação e a necessidade do paciente, e a dessaturação foi considerada evento adverso em 16 de 674 pacientes incluídos (2,4%). Na avaliação de 519 pacientes incluídos em diferentes estudos, o treinamento físico em média foi baseado em ~60% da FC máxima, não devendo exceder 120 bpm, e SpO2 > 85-90%. A dessaturação de oxigênio < 85-90% ou FC > 120 bpm foram usadas como critérios limitantes para ajustar a intensidade do treinamento, acarretando em interrupção precoce do exercício ou redução da intensidade do treinamento.(144,145)
 
OXIGÊNIO EM VIAGENS AÉREAS
 
As aeronaves comerciais podem atingir altitude de até 45.000 pés (13.716 m), com grande redução da pressão barométrica e da PaO2.(146) Para que os voos sejam possíveis, as cabines são pressurizadas a 8.000 pés (2.438 m) e, nessas condições, a FiO2 é equivalente a 15,1% em relação ao nível do mar; num indivíduo sadio, dependendo da idade e da ventilação minuto, sua PaO2 e a SaO2 reduziriam para 60-75 mmHg e 89-94%, respectivamente.(146-148)
 
Para manter a PaO2 adequada em situações de hipóxia hipobárica, há aumento da ventilação minuto, da FC e do DC, além de vasoconstrição pulmonar com redistribuição do fluxo para as regiões apicais, alterando a V/Q. A maioria dos indivíduos tolera bem essas modificações, mas alguns poderão apresentar dispneia, sonolência, alterações cognitivas, lipotimia e dor torácica.
 
Pacientes com pneumopatias crônicas, principalmente aqueles em ODP ou com SpO2 limítrofe, e portadores de outras doenças que cursem com hipoxemia terão a mesma agravada e poderão apresentar manifestações clínicas durante os voos.(147-150) Dessa forma, pacientes com risco de hipoxemia em viagens aéreas devem ser avaliados quanto à necessidade de suplementação de oxigênio. O uso de ODP, a presença de comorbidades e a informação de sintomas respiratórios em voos prévios, tais como dispneia, tosse ou dor torácica, devem ser investigados. Os pacientes devem viajar apenas nas fases estáveis das suas doenças.(148) Além disso, durante os voos, os passageiros podem permanecer imobilizados por longos períodos e estarem expostos a baixas temperaturas e ressecamento do ar, fatores que potencializam o risco de exacerbações ou outras complicações como tromboembolia venosa, o que reforça a importância de permanecer com SpO2 adequada durante a viagem.(151)
 
Pacientes com SpO2 > 95% em ar ambiente podem voar sem suplementação; por outro lado, aqueles com SpO2 ≤ 92% devem receber oxigênio suplementar durante as viagens aéreas. Os pacientes com SpO2 entre 92% e 95% devem ser submetidos a TC6 ou teste de simulação de hipóxia em altitude, esse último raramente está disponível em nosso meio. Pacientes que persistirem com SpO2 ≤ 84% durante um desses testes também necessitarão de suplementação de oxigênio durante o voo.(149,150) O teste de simulação de hipóxia em altitude simula as condições ambientais (pressão barométrica e FiO2) encontradas nas cabines pressurizadas. Idealmente, deveria ser realizado em câmaras hipobáricas; porém, essas câmaras são pouco disponíveis, e o teste, quando realizado em câmaras normobáricas, não tem resultados confiáveis.(149,150)
 
Pacientes que necessitem um fluxo > 4 L/min para corrigir a hipoxemia devem ser desencorajados a voar e, caso o façam, devem utilizar transporte aeromédico. (151) É importante salientar que essas recomendações se baseiam principalmente em estudos realizados em pacientes com diagnóstico de DPOC e são extrapolados para outras doenças respiratórias.(152,153)
 
Após uma avaliação, o médico assistente deve preencher a autorização de voo com a prescrição do fluxo de oxigênio e de outras medidas necessárias no documento conhecido como Medical Information Form (formulário de informações médicas), que é fornecido pelas empresas aéreas. O preenchimento deve ocorrer pelo menos 72 h antes do voo para que haja tempo hábil de apreciação pela empresa. Os pacientes devem programar com antecedência suas viagens aéreas, pois o tempo para liberação da companhia é variável.(151-153)
 
Na aeronave, a suplementação pode ser realizada por oxigênio fornecido pela companhia aérea (cilindro ou concentrador de oxigênio) ou pelo concentrador do paciente, desde que homologado. No período de trânsito e permanência nos aeroportos o paciente usará o seu concentrador. Recentemente, a Agência Nacional de Aviação Civil divulgou uma instrução complementar sobre o uso de concentradores portáteis em aeronaves comerciais.(154) Os pontos mais importantes são os seguintes: os concentradores devem ser de marcas autorizadas para voo, o equipamento e as baterias não podem ser despachados, e as baterias devem garantir autonomia do equipamento de no mínimo 150% do tempo do voo. Infelizmente, as empresas aéreas que operam comercialmente não têm regras homogêneas, nem em relação ao formato do formulário, nem em relação ao fornecimento de oxigênio. É necessário que o médico assistente consulte os procedimentos de cada companhia para a orientação adequada do paciente (Quadro 9 e Figura 1).
 
CUIDADOS GERAIS PARA PRESCRIÇÃO DE ODP
 
Alguns cuidados devem ser observados na prescrição de ODP. Em relação aos pacientes, atentar para educação continuada e treinamento relacionados ao equipamento de oxigênio do paciente, segurança no uso e autogerenciamento. Entre as responsabilidades de quem prescreve, destacam-se: a) determinação do objetivo e da necessidade da ODP por meio de gasometria arterial; b) preenchimento correto dos relatórios e atenção aos protocolos municipais ou estaduais; c) seleção de um fornecedor qualificado de equipamentos médicos duráveis; d) titulação do oxigênio em diferentes momentos (repouso, atividades da vida diária, sono, esforços/exercício, viagens, exacerbações) com o objetivo de determinar o fluxo adequado para que o paciente sempre mantenha a SpO2 > 90%; e) testar o fluxômetro, pois o equipamento pode fornecer fluxo diferente do que está indicando; f) prescrição de fluxos adequados de oxigênio para cada situação específica, duração mínima do uso, fontes diversas para fornecimento de oxigênio e acessórios necessários; g) reavaliação periódica da necessidade de ODP para renovação e/ou modificação de prescrição; e h) educação dos pacientes e de seus familiares sobre o uso correto da ODP com enfoque especial sobre a boa adesão. Essas recomendações estão descritas em diversos quadros deste documento: sobre aspectos práticos da prescrição de oxigênio (Quadros 1-7), sobre o protocolo para prescrição de oxigênio (Quadro 8) e sobre viagens aéreas (Quadro 9 e Figura 1).
  





















 

CONSIDERAÇÕES FINAIS
 
A ODP teve seu uso difundido a partir da década de 1980. Mesmo com poucos estudos e com várias perguntas sem respostas, houve rápida divulgação dos benefícios da ODP, e várias sociedades de pneumologia em todo mundo passaram a orientar o seu uso. As recomendações neste documento refletem uma integração de evidências atuais e das previamente estabelecidas, sendo a ODP prescrita para pacientes com hipoxemia grave em repouso com o objetivo de melhorar a sobrevida e a qualidade de vida, apoiadas por estudos em pacientes com DPOC. As evidências existentes sugerem não prescrever ODP para pacientes com DPOC com hipoxemia moderada em repouso. A prescrição de oxigênio para pacientes com DPI com hipoxemia grave em repouso é fortemente recomendada. Ainda faltam evidências sobre o papel da ODP em outras doenças pulmonares, como a HP, e sobre o uso durante o sono e durante atividades físicas. Pesquisas futuras são fundamentais para a avaliação sobre a segurança da decisão compartilhada entre os pacientes e os seus médicos sobre ODP e a melhor abordagem para a descontinuação da ODP naqueles sem hipoxemia grave em repouso.
 
É necessário destacar que os programas de ODP têm custos elevados e que sua prescrição deve ser correta para que os pacientes realmente se beneficiem da mesma e obtenham o resultado esperado, tanto do ponto de vista médico quanto do ponto de vista social, laborativo e familiar.(6,19,20,25) Os autores analisaram as recomendações das três últimas diretrizes internacionais sobre ODP e, após uma análise pormenorizada dessas,(6,20,25) tendo suas principais conclusões resumidas no Quadro 10, concordaram com as mesmas indicações, mas enfatizando a necessidade de mais estudos, principalmente em relação às doenças crônicas além da DPOC.

 

 

 
CONTRIBUIÇÕES DOS AUTORES
 
Todos os autores participaram de todas as etapas de elaboração do documento: planejamento, redação, revisão e aprovação final do manuscrito.
 
CONFLITOS DE INTERESSE
 
Nenhum declarado.
 
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