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ISSN (on-line): 1806-3756

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Cartas ao Editor

Frequência de detecção espontânea de trombos arteriais pulmonares em aquisição não contrastada de tomografia computadorizada do tórax em pacientes portadores de tromboembolismo pulmonar

Frequency of spontaneous detection of pulmonary arterial thrombi in unenhanced chest computed tomography in patients diagnosed with pulmonary embolism

Pedro Paulo Teixeira e Silva Torres1, Marcelo Fouad Rabahi2, Alexandre Dias Mançano3, Silvia Helena Rabelo dos Santos2, Edson Marchiori4

DOI: 10.36416/1806-3756/e20210128

AO EDITOR,
 
O tromboembolismo pulmonar (TEP) é a terceira doença cardiovascular mais frequente, podendo ser letal na fase aguda ou determinar repercussões tardias significativas, como o tromboembolismo pulmonar crônico hipertensivo. Do ponto de vista clínico, a sintomatologia do TEP agudo é ampla, incluindo quadros assintomáticos, dispneia de repouso, dor torácica e episódios de síncope.(1) Dada a variabilidade de manifestações do quadro agudo, mesmo diante da suspeição clínica, diagnósticos alternativos podem ser obtidos após a realização da angiotomografia por tomógrafo de múltiplos detectores (angio-TC). A angio-TC é considerada o método de escolha para o diagnóstico por imagem de TEP, sendo apontada como um método seguro para exclusão de TEP em exames com qualidade técnica satisfatória, alcançando valor preditivo negativo de 95%.(1-3) Considerando as limitações do diagnóstico clínico de TEP e eventuais contraindicações à injeção do meio de contraste iodado, TCs do tórax não contrastadas são frequentemente realizadas para avaliação de pacientes com sintomas cardiopulmonares agudos não específicos, tornando a detecção de sinais indiretos de TEP crucial para suscitar a necessidade de exames complementares para confirmação do diagnóstico em tempo hábil.
 
O objetivo do presente estudo foi avaliar a frequência e características de trombos visualizados em TCs do tórax não contrastadas em pacientes portadores de TEP confirmado por angio-TC. 
 
Foi realizado um estudo retrospectivo transversal e observacional das angiotomografias de tórax com protocolo para TEP realizadas entre janeiro de 2010 e dezembro de 2014 em um hospital de atenção terciária. Os exames foram realizados sendo executada uma fase não contrastada, parte do protocolo da instituição, seguida de uma fase contrastada, utilizando-se infusão endovenosa de contraste iodado não iônico de baixa osmolaridade. Inicialmente, dois examinadores (com 19 e 10 anos de experiência, respectivamente) avaliaram as angiotomografias de forma independente na procura de embolia pulmonar, sendo os exames com resultado positivo selecionados para análise. Posteriormente, outros dois examinadores (com 2 e 10 anos de experiência, respectivamente) tiveram acesso aos exames positivos para TEP selecionados, visando pesquisa de sinais de trombos na aquisição não contrastada. Nesta etapa, os leitores realizaram a avaliação da TC sem contraste de maneira cega em relação à localização dos trombos, buscando identificação dos mesmos na aquisição não contrastada. Foi avaliada ainda a presença de imagens compatíveis com infartos no parênquima pulmonar.
 
Um total de 993 angiotomografias consecutivas foram selecionadas, sendo encontrados estudos positivos para TEP em 164 pacientes (16,5%). Destes, foram excluídos 64 pacientes por motivos variados (protocolo inadequado ou perda de dados), restando 100 pacientes com angiotomografias positivas para TEP, constituindo a amostra desta avaliação. Dentre os 100 pacientes participantes, 72 eram do sexo feminino, e a idade média foi de 51,4 anos. Trombos em ramificações centrais (tronco da artéria pulmonar, artérias pulmonares principais ou ramos interlobares descendentes) foram caracterizados em 44 pacientes.
 
Em 17 pacientes (17%), foi possível detectar a presença de imagens compatíveis com trombos (TSC+) no estudo não contrastado; os pacientes restantes (TSC-) foram utilizados como grupo controle para fins de análise estatística. Em 13 pacientes (76,5%), os trombos se apresentaram hiperatenuantes, enquanto em 4 pacientes (23,5%), hipoatenuantes. Dentre estes, no estudo não contrastado, foram observados trombos exclusivamente centrais em 15 pacientes (88,2%); em 1 paciente (5,9%), foi possível observar trombos centrais e em ramo segmentar, e em 1 paciente (5,9%), houve observação isolada de trombo em ramificação segmentar. Em relação à localização dos trombos observados no estudo não contrastado, os vasos mais acometidos foram a artéria interlobar descendente direita (13 pacientes), seguido da artéria pulmonar principal homolateral (7 pacientes) e posteriormente do ramo interlobar descendente esquerdo (4 pacientes), destacando-se que, eventualmente, o mesmo paciente apresentava trombos passíveis de detecção em mais de um sítio. A mensuração da densidade foi possível em todos estes pacientes e, em média, os trombos que se apresentaram espontaneamente hiperatenuantes tiveram densidade de 71,1 UH (Mín 58 UH / Máx 87 UH), enquanto os trombos hipoatenuantes mostraram densidade média de 26,7 UH (Mín 11 UH / Máx 36 UH).
 

Na análise multivariada, comparando-se os grupos TSC+ e TSC-, houve associação significante entre a visualização espontânea de trombos no sistema arterial pulmonar e a presença de trombo central (OR: 30,81; IC: 3,80-249,69).
 
Notou-se que, dentre os pacientes do grupo TSC+, aproximadamente metade (47%) não apresentava imagens atribuíveis a infartos no parênquima pulmonar, destacando-se que, eventualmente, a percepção espontânea do trombo pode ser o único sinal indireto para suspeição de embolia pulmonar em uma tomografia do tórax sem contraste endovenoso.
 
O presente estudo incluiu a maior casuística de angio-TCs positivas para embolia pulmonar dentre aqueles com metodologia semelhante a que tivemos acesso. Foi possível identificar trombos na aquisição tomográfica não contrastada em 17% dos exames, em sua maioria de localização central. Houve associação estatisticamente significante entre a visualização de trombos no estudo não contrastado e a presença de trombos centrais, corroborando estudos prévios.(4-8) Embora estudos recentes mostrem que a presença de embolia central não representa fator de risco independente para aumento de mortalidade, a localização central tem sido relacionada à disfunção do ventrículo direito, recorrência de tromboembolismo venoso após retirada da anticoagulação e à evolução clínica desfavorável, ressaltando a importância do reconhecimento da condição.(9-10)
 
No grupo TSC+, foram percebidos trombos hiperatenuantes e hipoatenuantes em relação à densidade sanguínea regional. Comparando-se a frequência destes achados no estudo atual e no estudo de Cobelli et al.,(5) a frequência de trombos hiperatenuantes foi maior no presente estudo (76% vs. 47%), sendo semelhante à frequência de trombos hipoatenuantes (23% em ambos). A atenuação média dos trombos hiperatenuantes e hipoatenuantes foi bastante semelhante entre o estudo atual e o estudo de Cobelli et al.(5) (71,1 UH vs. 74,2 UH para trombos hiperatenuantes e 26,7 UH vs. 27,7 UH para trombos hipoatenuantes, respectivamente).
 
Nosso estudo apresentou algumas limitações. A variação interobservador na identificação dos trombos nos estudos não contrastados não foi realizada por fugir ao objeto do presente estudo. Dentre os exames excluídos por perda de dados, a maioria se tratava de estudos positivos para tromboembolismo segundo os relatórios, aspecto que, além de reduzir a amostragem, limitou a avaliação da acurácia da identificação de trombos na aquisição não contrastada para detecção de tromboembolismo pulmonar.
 
CONTRIBUIÇÕES DOS AUTORES
 
PPTST, MFR, ADM, SHRS e EM: concepção e planejamento do trabalho; interpretação das evidências; redação e/ou revisão das versões preliminares e definitiva e aprovação da versão final.
 
Trabalho realizado no Departamento de Radiologia, RA Radiologia - Sabin Medicina Diagnóstica, Taguatinga (DF), Brasil e na Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro (RJ), Brasil.
 
REFERÊNCIAS
 
1.            Konstantinides SV, Torbicki A, Agnelli G, Danchin N, Fitzmaurice D, Galié N et al. 2014 ESC Guidelines on the Diagnosis and Management of Acute Pulmonary Embolism. Eur Heart J 2014; 35:3033-3080. https://doi.org/10.1093/eurheartj/ehu283.
2.            Ferreira EV, Gazzana MB, Sarmento MB, Guazzelli PA, Hoffmeister MC, Guerra VA et al. Alternative diagnoses based on CT angiography of the chest in patients with suspected pulmonary thromboembolism. J Bras Pneumol 2016; 42:35-41. https://doi.org/10.1590/S1806-37562016000000105.
3.            Stein PD, Fowler SE, Goodman LR, Gottschalk A, Hales CA, Hull RD et al. Multidetector computed tomography for acute pulmonary embolism. N Engl J Med 2006; 354:2317-27. https://doi.org/10.1056/NEJMoa052367.
4.            Kanne JP, Gotway MB, Thoongsuwan N, Stern EJ. Six cases of acute central pulmonary embolism revealed on unenhanced multidetector CT of the chest. AJR 2003; 180:1661-1664. https://doi.org/10.2214/ajr.180.6.1801661.
5.            Cobelli R, Zampatori M, De Luca G, Chiari G, Bresciani P, Marcato C. Clinical usefulness of computed tomography study without contrast injection in the evaluation of acute pulmonary embolism. J Comput Assist Tomogr 2005; 29:6-12. https://doi.org/10.1097/01.rct.0000148274.45419.95.
6.            Torres PPTS, Mançano AD, Zanetti G, Hochhegger B, Aurione ACV, Rabahi MF et al. Multimodal Indirect Imaging Signs of Pulmonary Embolism. Br J Radiol 2020;93: 20190635. https://doi.org/10.1259/bjr.20190635.
7.            Torres PPTS, Mançano AD, Marchiori E. Hyperattenuating Sign: An Important Finding to Diagnose Pulmonary Embolism at Unenhanced Chest CT. AJR 2017; 209: W201. https://doi.org/10.2214/AJR.17.18204.
8.            Sun S, Semionov A, Xuanqian X, Kosiuk J, Mesurolle B. Detection of Central Pulmonary Embolism on Non-Contrast Computed Tomography: a Case Control Study. Int J Cardiovasc Imaging 2014; 30:639-646. https://doi.org/10.1007/s10554-013-0356-x.
9.            Choi KJ, Cha SI, Shin KM, Lim JK, Yoo SS, Lee J et al. Central Emboli Rather than Saddle Emboli Predict Adverse Outcomes in Patients with Acute Pulmonary Embolism. Thromb Research 2014; 134:991-996. https://doi.org/10.1016/j.thromres.2014.08.027.
10.          Senturk A, Ozsu S, Duru S, Cakir E, Ulasli SS, Demirdogen E et al. Prognostic Importance of Central Thrombus in Hemodynamically Stable Patients with Pulmonary Embolism. Cardiol J 2017; 24:508-514. https://doi.org/10.5603/CJ.a2017.0021.

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