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Cartas ao Editor

Controle de tabagismo em jovens e adultos: o Brasil fez sua lição de casa?

Tobacco control in young people and adults: did Brazil do their homework?

Marilyn Urrutia-Pereira1, Herberto José Chong-Neto2, Dirceu Solé3

DOI: 10.36416/1806-3756/e20210233

AO EDITOR,
 
Nos últimos 30 anos, mais de 200 milhões de mortes foram causadas pelo uso do tabaco e os custos econômicos anuais decorrentes dele excedem 1 trilhão de dólares.(1-4) Dados atualizados sobre a prevalência do tabagismo e as doenças atribuíveis à Carga Global de Doenças (GBD) 2019 são um apelo urgente para que os países programem e implementem políticas de controle de tabaco mais fortes do que as que estão atualmente em vigor.(1,3,4)
 
Estes resultados demonstraram que em 2019, mais de 1 bilhão de pessoas fumaram tabaco regularmente e quase 8 milhões de mortes foram atribuídas ao tabagismo, que foi responsável por 20,2% das causas de mortes entre os homens, sendo o principal fator de risco para mortes e dos anos de vida perdidos por incapacidade (Disability-adjusted life year- DALY) entre os homens.(3,4) Entretanto, o tabagismo foi responsável por aproximadamente 5,8% de todas as mortes entre as mulheres devido à menor prevalência, menor duração e menor intensidade do tabagismo entre elas em relação aos homens.(3)
 
Em 2019, os dez países com o maior número de fumantes juntos representavam quase dois terços da população mundial de fumantes. São eles: China, Índia, Indonésia, Estados Unidos da América, Rússia, Bangladesh, Japão, Turquia, Vietnã e Filipinas.(3)
 
O relatório aponta mudanças importantes na prevalência global quando 1,14 bilhões (intervalo de confiança de IC95%:1,13-1,16) de indivíduos eram fumantes e consumiam 7,41 trilhões (IC95%:7,11-7,74) de tabaco.(3) Entre 1990 e 2019, houve uma redução significativa na prevalência do tabagismo ativo entre homens acima de 15 anos de idade em 135 países (66%) e entre mulheres em apenas 68 países (33%). As maiores reduções ocorreram no Brasil, sendo 72,5% (IC95%:70,1-74,7) entre os homens e 74,7% (IC95%:71,2-78,0) entre as mulheres.(3)
 
A evolução das taxas atuais de prevalência do tabagismo por idade, considerando o grupo total, apresentou as maiores reduções no Brasil (73,4% [IC95%:71,4-75,2]), Noruega (53,5% [IC95%:49,1-57,6]), Senegal (50,9% [IC95%:44,6-56,0]), Islândia (49. 7% [IC95%:44,5-54,1]), Dinamarca (49,3% [IC95%:46,4-52,2]), Haiti (47,5% [IC95%:40,5-54,4]), Austrália (47,5% [IC95%:43,1-51. 8]), Costa Rica (47,4% [IC95%:40,5-53,6]), Canadá (47,4% [IC95%:42,4-52,0]) e Colômbia (47,1% [IC95%:40,4-53,4]).
 
A prevalência do tabagismo em 2019 entre os jovens de 15 a 24 anos continua alta em muitas partes do mundo com 20,1% (IC95%:19,4-20,8) entre os homens e 4,95% (IC95%:4,64-5,29) entre as mulheres. Estima-se que 82,6% (IC95%:82,1-83,1) dos fumantes atuais começaram o hábito entre 14 e 25 anos de idade, e que 18,5% (IC95%:17,7-19,3) começaram regularmente aos 15 anos de idade.(4) O início do uso do tabaco antes dos 20 anos de idade destaca a oportunidade única de direcionar os esforços de prevenção entre os jovens, salvar milhões de vidas e evitar futuros custos de saúde.(5)
 
O desenvolvimento e a implementação de fortes políticas de controle do tabaco levaram a progressos na proteção dos jovens e na redução do número de jovens fumantes em alguns países. O Brasil teve a maior redução na prevalência do tabagismo em indivíduos entre 15 a 24 anos, com uma redução na prevalência de 74,5% (IC95%:69,0-78,9) variando de 27,5% (IC95%:25,2-30,0) em 1990 para 7,01% (IC95%:5,9-8,3) em 2019.(6)
 
No entanto, a prevalência do tabagismo ativo entre os jovens, na maioria dos países, continua elevada e está associada ao aumento do uso de cigarros eletrônicos e produtos de vaporização, o que coloca em risco o progresso alcançado.(7) A proibição de adicionar sabor a esses produtos e a limitação da idade mínima de compra destinam-se a ajudar a reduzir o início do consumo de tabaco entre os jovens.(8)
 
À medida que a indústria do tabaco inova com diferentes formas de comercializar seus produtos, incluindo o avanço da mídia social para alcançar os jovens utilizando campanhas de marketing e os chamados influenciadores digitais, as estratégias de controle do tabaco também devem evoluir.(9)
 
Uma década após a introdução da Convenção-Quadro para o Controle do Tabaco (FCTC) da Organização Mundial da Saúde, foi o período de redução mais rápida da prevalência do consumo de tabaco pelos fumantes no maior número de países.(3,4) Brasil, Noruega e Senegal, associados à Islândia, Dinamarca, Canadá, Austrália, Colômbia e Costa Rica, todos com reduções de prevalência superiores a 45%, demonstraram o potencial desta ferramenta para reduzir significativamente a prevalência do consumo de tabaco e salvar milhões de vidas de pessoas.(10)
 
Apesar destes sucessos, há três situações preocupantes. A primeira diz respeito aos países com grandes populações e alta prevalência do tabagismo: a China e a Indonésia. Na China houve 2,4 milhões de mortes em 2019, resultantes de um aumento de 57,9% (IC95%:26,2-101,0) de mortes por tabagismo desde 1990. Na Indonésia, houve 246.400 mortes em 2019, sendo que 118% (IC95%:74.0-171.0) foram atribuídas ao tabagismo desde 1990.(3) Em segundo lugar, a maioria dos países não alcançou reduções suficientes na prevalência do tabagismo para compensar a força demográfica do crescimento de sua população, resultando em um número constante ou crescente de fumantes ao longo do tempo (3). E em terceiro lugar, em muitos países, incluindo aqueles que já experimentaram grandes reduções na prevalência do tabagismo, a taxa de progresso diminuiu, especialmente nos últimos cinco anos.(3)
 
Os países de baixa e média renda enfrentam o desafio adicional do crescimento populacional, que, por sua vez, aumenta a população fumante. A tributação do tabaco é uma medida altamente econômica e, quando combinada com a abordagem progressiva de redistribuição de sua receita para programas de controle do tabaco, assistência médica e outros serviços de apoio social, pode reduzir significativamente a prevalência do tabagismo e melhorar substancialmente a saúde da população.(10)
 
 
O tabagismo continua sendo um desafio definitivo para a saúde global. O atual nível de implementação de política de controle do tabaco é insuficiente em vários países ao redor do mundo, no entanto, o relatório indica que o Brasil está conseguindo controlar a situação, embora ainda tenha um longo caminho a percorrer.(3)
 
Com mais de 1 bilhão de pessoas fazendo uso de tabaco no mundo inteiro em 2019, o número de mortes anuais, custos econômicos e encargos sobre os sistemas de saúde causados pelo fumo certamente aumentará nos próximos anos, a menos que os países ajam agressivamente fundamentados em estratégias de evidências para prevenir o início do tabagismo e parar o fluxo constante de novos fumantes.(3)
 
REFERÊNCIAS
 



  1. GBD 2019 Risk Factors Collaborators. Global burden of 87 risk factors in 204 countries and territories, 1990–2019: a systematic analysis for the Global Burden of Disease Study 2019. Lancet 2020;396:1223–49. https://doi.org/10.1016/S0140-6736(20)30752-2

  2. Goodchild M, Nargis N, Tursan d’Espaignet E. Global economic cost of smoking-attributable diseases. Tob Control 2018; 27:58–64. https://doi.org/10.1136/tobaccocontrol-2016-053305

  3. GBD 2019 Tobacco Collaborators. Spatial, temporal, and demographic patterns in prevalence of smoking tobacco use and attributable disease burden in 204 countries and territories, 1990-2019: a systematic analysis from the Global Burden of Disease Study 2019. Lancet. 2021;397(10292):2337-2360. https://doi.org/10.1016/S0140-6736(21)01169-7

  4. Reitsma MB, Flor LS, Mullany E C, Gupta V, Hay SI, Gakidou E. Spacial, temporal, and demographic patterns in prevalence of smoking tobacco use and initiation among young people in 204 countries and territories, 1990-2019. Lancet Public Health 2021. S2468-2667(21)00102-X.https://doi.org/10.1016/s2468-2667(21)00102-x

  5. Song AV, Dutra LM, Neilands TB, Glantz SA. Association of smoke-free laws with lower percentages of new and current smokers among adolescents and young adults: an 11-year longitudinal study. JAMA Pediatr 2015; 169: e152285. https://doi.org/10.1001/jamapediatrics.2015.2285

  6. Portes LH, Machado CV, Turci SRB, Figueiredo VC, Cavalcante TM, Silva VLDCE. Tobacco control policies in Brazil: a 30-year assessment. Cien Saude Colet 2018;23:1837–48. https://doi.org/10.1590/1413-81232018236.05202018

  7. de Andrade M, Hastings G, Angus K. Promotion of electronic cigarettes: tobacco marketing reinvented? BMJ 2013; 347: f7473. https://doi.org/10.1136/bmj.f7473

  8. Carpenter CM, Wayne GF, Pauly JL, Koh HK, Connolly GN. New cigarette brands with flavors that appeal to youth: tobacco marketing strategies. Health Aff (Millwood). 2005;24:1601–10.https://doi.org/10.1377/hlthaff.24.6.1601

  9. O’Brien EK, Hoffman L, Navarro MA, Ganz O. Social media use by leading US e-cigarette, cigarette, smokeless tobacco, cigar and hookah brands. Tob Control.2020;29:e87–97. https://doi.org/10.1136/tobaccocontrol-2019-055406

  10. Chung-Hall J, Craig L, Gravely S, Sansone N, Fong GT. Impact of the WHO FCTC over the first decade: a global evidence review prepared for the Impact Assessment Expert Group. Tob Control. 2019;28 (suppl 2):s119–28. https://doi.org/10.1136/tobaccocontrol-2018-054389



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