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Editorial

Mortalidade por câncer do pulmão

Lung cancer mortality

Carlos Alberto Guimarães

O câncer do pulmão é um grande problema de saúde pública nos países desenvolvidos. Nos EUA, as taxas de mortalidade decresceram (de 1995 a 2003) entre os homens (72 óbitos/100.000), mas aumentaram entre as mulheres (40 óbitos/100.000). Essas taxas de mortalidade entre as mulheres, quando comparadas com as dos homens, refletem as diferenças históricas no consumo de cigarros entre os dois sexos: o consumo entre as mulheres atingiu um pico cerca de vinte anos mais tarde do que entre os homens.(1)

No Canadá, a mortalidade por câncer do pulmão está diminuindo entre os homens desde a década de 80 e aumentando entre as mulheres desde 1978. Estima-se que, em 2007, a mortalidade será de 19,9/100.000 (11 entre os homens e 8,9 entre as mulheres). Esses padrões canadenses refletem a queda do consumo do tabaco a qual começou nas décadas de 60 (homens) e de 80 (mulheres).(2)

Um estudo mexicano evidenciou uma diminuição da mortalidade por câncer do pulmão (7,91/100.000 em 1989 e 5,96/100.000 em 2000), a qual se correlacionou com a redução per capita no consumo de tabaco no período de 1959 a 1982. A razão homem:mulher foi de 2,4:1, e a maior taxa de mortalidade foi observada entre os homens de 70-74 anos e entre as mulheres com mais de 75 anos.(3)

Entre os homens europeus, há três padrões de mortalidade por câncer do pulmão. O primeiro, observado na Finlândia e no Reino Unido, é de constante declínio (46/100.000 e 54/100.000, respectivamente, em 2005). No Reino Unido, a taxa de mortalidade por câncer do pulmão entre os homens diminuiu em todas as faixas de idade. Entre as mulheres, as taxas de mortalidade passaram de 18/100.000 em 1971 para 30/100.000 em 2005. Nesse período, a relação homem:mulher diminuiu de 6:1 para 7:4. Entre as mulheres, as taxas diminuíram na faixa de 55-64 anos (desde a década de 80) e na faixa de 65-74 anos (desde a década de 90). A mortalidade se manteve estável na faixa de 45-54 anos desde a década de 80 e aumentou nas mulheres com mais de 75 anos durante os últimos 30 anos.(4)

O segundo padrão é observado na Europa Setentrional e Central e tem valores absolutos díspares. A mortalidade é baixa e apresenta leve ascensão na Noruega (30/100.000) e é baixa e estável na Suécia (24/100.000).

Por fim, há um terceiro padrão, observado em Portugal, Espanha, Grécia e Europa Oriental, no qual há aumento da mortalidade. Na década de 90, a mortalidade era de 84/100.000 na Hungria e de 71/100.000 na Polônia.(5) A mortalidade nesses dois países continua a aumentar, ocupando atualmente os primeiros lugares em toda a Europa.(4) A mortalidade por câncer do pulmão entre as mulheres européias está aumentando, mas ainda é relativamente baixa - abaixo de 10/1000,000 - exceto na Hungria, Reino Unido, Dinamarca, Islândia e Irlanda (20-25/100.000 em todas as faixas de idade).(5,6)

No Japão, o número de mortes por câncer do pulmão vai dobrar nas próximas 3 décadas. As projeções para 2009 indicam cerca de 52 óbitos/100.00 (homens) e 19 óbitos/100.000 (mulheres).(7)

Na China, estimou-se um número de 327.643 mortes por câncer do pulmão em 2000 e de 428.936 em 2005. Esse aumento da mortalidade foi observado em todas as faixas de idade e, principalmente, nas áreas rurais.(8)

Na Nova Zelândia, no período de 1981 a 1999, houve declínio da mortalidade entre os homens, principalmente entre aqueles de maior renda e maior escolaridade. Porém, a mortalidade masculina é maior que a feminina. A mortalidade entre as mulheres aumentou muito entre aquelas de baixa renda (27 para 46/100.000) e se manteve constante entre as de melhor renda.(9)

Neste fascículo, são publicados dois artigos sobre as tendências da mortalidade por câncer do pulmão no Brasil. Os autores Malta et al.(10) (Secretaria de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde) e Boing et al.(11) (Departamento de Saúde Pública da Universidade Federal de Santa Catarina) utilizaram o banco de dados do Sistema de Informações sobre Mortalidade do Ministério da Saúde.

Os dados coletados evidenciaram que, entre os homens, houve um aumento modesto da taxa de mortalidade: de 10,64 óbitos/100.000 em 1979 para 13,07 óbitos/100.000 em 2004. Entre as mulheres, o aumento foi maior, passando de uma taxa de 3,04 óbitos/100.000 em 1979 para 5,37 óbitos/100.000 em 2004. A relação mulher:homem, que era de 1:3,3 em 1979, passou para 1:2 em 2004. As taxas, em todas as faixas de idade, foram maiores entre os homens e aumentaram, em ambos os sexos, com o avanço da idade. Foi também detectado um declínio da taxa de mortalidade entre os homens de 30 a 69 anos; porém, entre os homens com mais de 70 anos e entre as mulheres com mais de 30 anos, a tendência é de aumento das taxas. As maiores taxas de mortalidade foram observadas no Sul e no Sudeste. O incremento real das taxas ocorreu em ambos os sexos e em todas as regiões, com exceção da população masculina do Sudeste, a qual mostrou taxas estáveis no período. É possível que parte do incremento da mortalidade observado durante o período de 1979 a 2004 e a existência de diferentes magnitudes da doença entre as cinco regiões do país deveram-se às melhorias nas fontes de informação e às diferenças regionais na qualidade dos dados.

O padrão da mortalidade por câncer do pulmão observado no Brasil se assemelha àquele observado em Portugal, Espanha, Grécia, Europa Oriental, Japão e China.

Em conclusão, o estudo epidemiológico dos eventos relacionados à saúde - por exemplo, a mortalidade por câncer do pulmão - permite um aperfeiçoamento dos programas de controle, de prevenção e de assistência aos agravos à saúde. A mortalidade futura por câncer do pulmão depende da conscientização atual dos jovens quanto aos fatores de risco, a qual é o objetivo principal das campanhas anti-tabagismo.

Referências

1. Jemal A, Siegel R, Ward E, Murray T, Xu J, Thun MJ. Cancer Statistics, 2007. CA Cancer J Clin. 2007;57(1):43-66.

2. Canadian Cancer Society [Homepage on the Internet]. Toronto: Canadian Cancer Society; [updated 2007 Jun 28; cited 2007 Aug 12]. Canadian Cancer Statistics 2007; [116 p.]. Available from: http://129.33.170.32/vgn/images/portal/ cit_86751114/36/15/1816216925cw_2007stats_en.pdf

3. Tovar-Guzmán VJ, López-Antuñano FJ, Rodríguez-Salgado N. Tendencias de la mortalidad por cáncer pulmonar en México, 1980-2000. Rev Panam Salud Publica. 2005;17(4):254-62

4. Cancer Research UK [Homepage on the Internet]. London: Cancer Research UK [cited 2007 Aug 5]. UK Lung Cancer mortality statistics; [5 screens]. Available from: http://info. cancerresearchuk.org/cancerstats/types/lung/mortality/

5. Pauk N, Kubík A, Zatloukal P, Krepela E. Lung cancer in women. Lung Cancer. 2005;48:1-9.

6. Bosetti C, Levi F, Lucchini F, Negri E, La Vecchia C. Lung cancer mortality in European women: recent trends and perspectives. Ann Oncol. 2005;16:1597-604.

7. Kaneko S, Ishikawa K, Yoshimi I, Marugame T, Hamashima C, Kamo K, et al. Projection of lung cancer mortality in Japan. Cancer Sci. 2003 Oct;94(10):919-23.

8. Yang L, Li L, Chen Y, Parkin DM. Mortality time trends and the
incidence and mortality estimation and projection for lung
cancer in China. Chin J Lung Cancer. 2005 Aug;8(4):274-8.

9. Shaw C, Blakely T, Sarfati D, Fawcett J, Hill S. Varying evolution of the New Zealand lung cancer epidemic by ethnicity and socioeconomic position (1981-1999). N Z Med J [serial on the Internet]. 2005 Apr 15 [cited 2007 Aug 12];118(1213); [14 p.]. Available from: http://www.nzma. org.nz/journal/118-1213/1411/content.pdf

10. Malta DC, Moura L, Souza MFM, Curado MP, Alencar AP, Alencar GP. Tendência de mortalidade do câncer de pulmão, traquéia e brônquios no Brasil, 1980-2003. J Bras Pneumol. 2007;33(5):536-43.

11. Boing AF, Rossi TF. Tendência temporal e distribuição espacial da mortalidade por câncer de pulmão no Brasil entre 1979 e 2004: magnitude, padrões regionais e diferenças entre sexos. J Bras Pneumol. 2007;33(5):544-51. J Bras Pneumol. 2007;33(5):xxix-xxx
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Carlos Alberto Guimarães
Presidente da Comissão de Câncer Pulmonar da Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia. Professor Adjunto do Departamento de Cirurgia da Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ - Rio de Janeiro (RJ) Brasil


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