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ISSN (on-line): 1806-3756

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Série de Casos

Experiência inicial com um sistema de drenagem digital no pós-operatório de cirurgia torácica pediátrica

An initial experience with a digital drainage system during the postoperative period of pediatric thoracic surgery

Altair da Silva Costa Jr1,2,3, Thiago Bachichi1, Caio Holanda1, Luiz Augusto Lucas Martins De Rizzo4

DOI: http://dx.doi.org/10.1590/S1806-37562016000000269

ABSTRACT

Objective: To report an initial experience with a digital drainage system during the postoperative period of pediatric thoracic surgery. Methods: This was a prospective observational study involving consecutive patients, ≤ 14 years of age, treated at a pediatric thoracic surgery outpatient clinic, for whom pulmonary resection (lobectomy or segmentectomy via muscle-sparing thoracotomy) was indicated. The parameters evaluated were air leak (as quantified with the digital system), biosafety, duration of drainage, length of hospital stay, and complications. The digital system was used in 11 children (mean age, 5.9 ± 3.3 years). The mean length of hospital stay was 4.9 ± 2.6 days, the mean duration of drainage was 2.5 ± 0.7 days, and the mean drainage volume was 270.4 ± 166.7 mL. The mean maximum air leak flow was 92.78 ± 95.83 mL/min (range, 18-338 mL/min). Two patients developed postoperative complications (atelectasis and pneumonia, respectively). The use of this digital system facilitated the decision-making process during the postoperative period, reducing the risk of errors in the interpretation and management of air leaks.

Keywords: Drainage; Thoracic surgery; Pediatrics.

RESUMO

Objetivo: Relatar a experiência inicial com um sistema de drenagem digital no pós-operatório de cirurgia torácica pediátrica. Métodos: Estudo observacional e prospectivo envolvendo pacientes consecutivos do ambulatório de cirurgia torácica pediátrica da instituição, com idade até 14 anos, e com indicação de ressecção pulmonar (lobectomia e/ou segmentectomia através de toracotomia poupadora muscular). Os parâmetros avaliados foram perda aérea (quantificada com o sistema digital), biossegurança, tempo de drenagem, tempo de internação e complicações. Resultados: O sistema digital foi utilizado em 11 crianças, com média de idade de 5,9 ± 3,3 anos. A média do tempo de internação foi de 4,9 ± 2,6 dias, a de tempo de drenagem foi de 2,5 ± 0,7 dias, e a de volume de drenagem foi de 270,4 ± 166,7 ml. A média da perda aérea máxima foi de 92,78 ± 95,83 ml/min (variação, 18-338 ml/min). Dois pacientes apresentaram complicações pós-operatórias (atelectasia e pneumonia, respectivamente). Conclusões: O uso desse sistema digital facilitou a tomada de decisão durante o pós-operatório, diminuindo o risco de erros na interpretação e no manejo da perda aérea.

Palavras-chave: Drenagem; Cirurgia torácica; Pediatria.

INTRODUÇÃO

A maioria das cirurgias pulmonares requer adequada drenagem da cavidade pleural para eliminar o ar e/ou líqui-do e permitir a expansão do pulmão remanescente. A equipe precisa ser capacitada para o correto manejo do siste-ma de drenagem.(1) A medição ou a classificação da perda de ar ainda é subjetiva e depende da experiência de profissionais para quantificá-la. Logo, sua interpretação está relacionada com a variabilidade do observador.(1,2) Divergências entre os observadores experientes ainda podem ocorrer, e, quando a dúvida persiste com o uso do sistema tradicional, o dreno pode ser fechado e ser realizada uma reavaliação radiográfica; com isso, o paciente permanece pelo menos mais um dia internado, com gastos de recursos e desperdício de tempo.

Nos últimos anos, a monitorização de sinais clínicos, como pressão arterial, FC, SpO2 e temperatura, é registrada de forma contínua e digital. Os registros eletrônicos em saúde e a tecnologia da informação de saúde diminuem os erros médicos por garantir informações completas sobre o estado do paciente.(3) No entanto, até agora, as informa-ções obtidas sobre a perda aérea são obtidas de forma subjetiva. Há dúvidas também sobre a quantidade de líquido. Estudos recentes sobre os sistemas digitais apresentaram uma avaliação objetiva desses parâmetros, mas nenhum em crianças até o presente momento. O objetivo do presente estudo foi relatar nossa experiencia inicial com o sis-tema de drenagem digital no pós-operatório (PO) de cirurgia torácica pediátrica.

MÉTODOS

Foi realizado um estudo do tipo observacional prospectivo e consecutivo, do tipo série de casos, para avaliar o sis-tema digital no PO da cirurgia torácica pediátrica. O presente estudo faz parte do projeto Dreno Digital e foi aprova-do pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal de São Paulo/plataforma Brasil, parecer 56579/2012, CAAE: 03514312.1.0000.5505.

Os critérios de inclusão foram os seguintes: pacientes do ambulatório de cirurgia torácica pediátrica, com idade até 14 anos, e com indicação de ressecção pulmonar (lobectomia e/ou segmentectomia através de toracotomia poupado-ra muscular). Os critérios de exclusão foram os seguintes: insuficiência renal ou hepática; disfunção neurológica; reoperação; operação de emergência/urgência; quimioterapia ou radioterapia pré-operatória; e ressecção da pare-de torácica.

O sistema de drenagem digital utilizado foi o dispositivo Thopaz® (Medela AG, Baar, Suíça). Os parâmetros avalia-dos foram perda aérea, biossegurança, tempo de drenagem, tempo de internação e complicações. Em crianças, ainda não há dados e parâmetros estabelecidos que especifiquem quando o dreno pode ser retirado; portanto, defi-nimos como limite a perda aérea menor que 10 ml/min nas últimas 6 h.

RESULTADOS

O sistema foi utilizado em 11 pacientes nesta fase inicial, sendo 4 (36%) do gênero masculino e 7 (64%) do gênero feminino. A média de idade foi de 5,9 ± 3,3 anos (variação, 1,6-13,0 anos), com mediana de 5 anos. Os demais dados da amostra estão na Tabela 1.
 



O quadro clínico mais frequente foi infecção de repetição, em 8 pacientes (72,7%). A malformação pulmonar foi o diagnóstico mais frequente, em 6 pacientes (54,5%). Desses, havia sequestros pulmonares, em 2, e malformações adenomatoides císticas, em 4. Bronquiectasias estavam presentes em 5 pacientes (45,5%). Foram realizadas lobec-tomias pulmonares, em 7 pacientes (63,6%); segmentectomia, em 2 (18,2%) e lobectomia com segmentectomia, em 2 (18,2%).

Em todos os pacientes foi utilizado somente um dreno torácico. A taxa de complicações foi de 18%, em 2 pacientes (atelectasia e pneumonia, respectivamente). Não houve mortalidade.

A intubação traqueal simples foi realizada em 10 (91%) dos pacientes. Somente 1 paciente foi submetido a intuba-ção seletiva. Todos os pacientes foram extubados em sala operatória e, em 7 (64%) o PO imediato foi realizado na UTI.

A analgesia durante a internação foi realizada através de cateter peridural em 8 (72,7%) dos pacientes, através do uso de solução de bupivacaína a 0,25% e fentanil (média de 27,7 ± 16,9 ml; variação, 5-55 ml). A quantidade média de dipirona i.v. e v.o. foi de 8,4 ± 4,8 g (variação, 2,5-18,0 g), enquanto, no caso de tramadol i.v. e v.o., essa foi de 118,3 ± 154,43 mg (variação, 0-550 mg). Todas as crianças foram submetidas a ressecções pulmonares por toraco-tomias com preservação do nervo intercostal através da técnica de retalho intercostal. Não houve fratura de costela em nenhum paciente, nem necessidade de transfusão sanguínea no PO. A hemorragia intraoperatória foi, em média, de 45,5 ± 35,3 ml (variação, 10-100 ml). O antibiótico utilizado como profilaxia foi cefuroxima.

Não houve enfisema subcutâneo em nenhum dos pacientes. A aspiração de rotina foi utilizada até o primeiro dia de PO e mantida por mais tempo somente se não houvesse expansão pulmonar adequada, confirmada pela radiografia de tórax. Somente 1 paciente precisou de aspiração continua até o segundo dia de PO. O manejo da perda aérea foi mais eficiente porque não havia dúvidas quanto ao borbulhamento, independentemente do avaliador. A perda aérea foi medida objetivamente em ml/min, sendo a média da perda aérea máxima de 92,78 ± 95,83 ml/min (variação, 18-338 ml/min) e a mediana de 89 ml/min. Todos os drenos foram retirados com perda aérea menor que 10 ml/min: 0 ml/min e 1 ml/min, em 10 pacientes e em 1, respectivamente. Não houve necessidade de redrenagem ou presença de cavidade pleural residual maior que 4 cm.

As informações do dispositivo foram exportadas para o computador através do programa ThopEasy® (Medela AG). Na exportação, obtivemos mais parâmetros, tais como tempo de drenagem, data, hora de início e de fim, pressões máxima e mínima de aspiração e fluxos máximo e mínimo da perda de ar. Os dados foram visualizados em um quadro e na forma de gráfico (Figura 1).
 




DISCUSSÃO

A biossegurança é utilizada para ações centradas na prevenção, proteção e minimização de riscos para profissio-nais e pacientes. Reflete os procedimentos adotados para evitar os riscos das atividades e envolve as relações entre tecnologia, riscos, fator humano e meio ambiente. A mensuração da biossegurança foi subjetiva e foi bem avaliada pela enfermagem pela otimização do tempo no cuidado com o paciente. Houve melhora do processo de manejo do sistema de drenagem em relação ao sistema tradicional, pois não havia necessidade de troca diária de selo de água, cuidados com o frasco, clampeamento do sistema e aspiração continua, entre outras atividades.

O uso do sistema digital em cirurgia torácica geral é bem conhecido. É utilizado como rotina em adultos em vários países, como Itália e Alemanha; porém, pelo que sabemos, ainda não houve relatos de seu uso em cirurgia torácica pediátrica. Talvez isso possa ser justificado pela baixa incidência de perda aérea prolongada em crianças. Como parte do protocolo desenvolvido na nossa instituição, estudamos a utilidade do dispositivo também em crianças. O sistema de drenagem convencional em selo d'água utilizado em crianças é o mesmo utilizado em adultos e com as mesmas limitações em relação à perda aérea.

Com o sistema digital, a perda de ar é medida em ml/min e pode também ser visualizada na forma de gráfico. A pressão de aspiração é controlada no próprio aparelho, independentemente da rede de vácuo do hospital, o que traz autonomia e segurança para o paciente e a equipe. Em adultos, o dreno pode ser retirado quando a perda de ar é inferior a 30 ml/min, nas últimas 6 h, que é visualizada no gráfico do próprio dispositivo.(2,4-7) Para crianças, ainda não há parâmetros estabelecidos; por isso, definimos o limite como menor que 10 ml/min nas últimas 6 h. O sistema foi funcional, simples e ofereceu novos padrões para a drenagem torácica em cirurgia pediátrica. Não se limitou somente a mensurar a perda aérea; ele permitiu a mobilização precoce do paciente, mesmo em aspiração contínua, o que é difícil com o sistema tradicional.(6,8)

Apesar da carência de dados na literatura consultada sobre biossegurança e sistema de drenagem torácica, a ava-liação subjetiva da enfermagem foi positiva, favorecida com aumento da praticidade e a dispensa de troca de selo d'água diariamente. Com a mínima manipulação do sistema, não há risco de ocorrerem intercorrências habituais, como frasco sem selo d'água, sistema clampeado e dreno desconectado ou obstruído, entre outras. O sistema forne-ceu dados objetivos sobre a perda de ar. Como desvantagens, citamos que é necessário que os profissionais de saúde recebam treinamento para poder lidar com o novo sistema digital e que seu custo é mais elevado em compa-ração com o do sistema tradicional, principalmente devido a impostos e tributos; o chamado "custo Brasil". Até o momento, pelo que sabemos, este é o primeiro estudo sobre o uso desse sistema digital em crianças.

O sistema digital facilitou a tomada de decisão durante o PO e, assim, diminuiu o risco de erros na interpretação e no manejo da perda aérea. Nosso estudo apresenta conclusões limitadas por ser uma série de casos com poucos participantes. Novos estudos com sistemas digitais em crianças devem ser realizados, inclusive com dispositivos já existentes em outros países, que também medem o fluxo de líquido, além da perda aérea. O uso de registros eletrô-nicos em saúde é inevitável.

REFERÊNCIAS

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3. Ajami S, Bagheri-Tadi T. Barriers for Adopting Electronic Health Records (EHRs) by Physicians. Acta Inform Med. 2013;21(2):129-34. https://doi.org/10.5455/aim.2013.21.129-134
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