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Artigo Original

O impacto das leis antifumo em alunos do ensino médio em Ancara, Turquia

The impact of anti-smoking laws on high school students in Ankara, Turkey

Melike Demir1, Gulistan Karadeniz2, Fikri Demir3, Cem Karadeniz4, Halide Kaya1, Derya Yenibertiz5, Mahsuk Taylan1, Sureyya Yilmaz1, Velat Sen3

ABSTRACT

Objective: To determine the factors affecting the smoking habits of high school students, their thoughts about changes resulting from anti-smoking laws, and how they are affected by those laws. Methods: In this cross-sectional study, 11th-grade students at eight high schools in Ankara, Turkey, were invited to complete a questionnaire. Results: A total of 1,199 students completed the questionnaire satisfactorily. The mean age of the respondents was 17.0 ± 0.6 years; 56.1% were female, of whom 15.3% were smokers; and 43.9% were male, of whom 43.7% were smokers (p < 0.001). The independent risk factors for smoking were male gender, attending a vocational school, having a sibling who smokes, having a friend who smokes, and poor academic performance. Of the respondents, 74.7% were aware of the content of anti-smoking laws; 81.8% approved of the restrictions and fines; and 8.1% had quit smoking because of those laws. According to the respondents, the interventions that were most effective were the (television) broadcast of films about the hazards of smoking and the ban on cigarette sales to minors. The prevalence of smoking was highest (31.5%) among students attending vocational high schools but lowest (7.5%) among those attending medical vocational high schools. Although 57.1% of the smokers were aware of the existence of a smoking cessation helpline, only 3.7% had called, none of whom had made any attempt to quit smoking. Conclusions: Although most of the students evaluated were aware of the harmful effects of smoking and approved of the anti-smoking laws, only a minority of those who smoked sought professional help to quit.

Keywords: Smoking/prevention & control; Smoking/trends; Smoking/psychology; Students/statistics & numerical data; Adolescent; Young Adult.

RESUMO

Objetivo: Determinar os fatores que afetam os hábitos de fumar de estudantes do ensino médio, seus pensamentos sobre as mudanças resultantes das leis antifumo e como eles são afetados por essas leis. Métodos: Neste estudo transversal, alunos do 11º ano de oito escolas de ensino médio em Ancara, Turquia, foram convidados para preencher um questionário. Resultados: Preencheram o questionário 1.199 estudantes de forma satisfatória. A média de idade dos participantes foi de 17,0 ± 0,6 anos; 56,1% eram mulheres; das quais 15,3% eram fumantes; e 43,9% eram homens, dos quais 43,7% eram fumantes (p < 0,001). Os fatores de risco independentes para o tabagismo foram ser homem, frequentar escola técnica, ter um irmão/irmã que fuma, ter um amigo que fuma e ter baixo desempenho acadêmico. Dos participantes, 74,7% conheciam o conteúdo das leis antifumo; 8,1% aprovavam as restrições e multas, e 8,1% haviam cessado o tabagismo devido a essas leis. Na opinião dos participantes, as intervenções mais efetivas foram a exibição de curtas na TV sobre os malefícios do tabagismo e a proibição da venda de cigarros a menores. A prevalência do tabagismo foi maior (31,5%) nos estudantes de escolas técnicas, mas menor (7,5%) nos estudantes de escolas técnicas médicas. Embora 57,1% dos fumantes soubessem da existência de um serviço telefônico de ajuda para a cessação tabágica, somente 3,7% haviam ligado para esse serviço, mas nenhum tentou parar de fumar. Conclusões: Embora a maioria dos alunos avaliados conhecesse os efeitos deletérios do tabagismo e aprovasse as leis antifumo, apenas uma minoria dos fumantes procurou ajuda profissional para a cessação tabágica.

Palavras-chave: Hábito de fumar/prevenção & controle; Hábito de fumar/tendências; Hábito de fumar/psicologia; Estudantes/estatística & dados numéricos; Adolescente; Adulto Jovem.

INTRODUÇÃO

O tabagismo é um importante problema de saúde que põe em risco a vida de pessoas de todas as idades. No mun-do, há 1,3 bilhões de fumantes, dos quais 84% vivem em países em desenvolvimento.(1) Anualmente, 5,4 milhões de pessoas morrem por doenças relacionadas ao tabaco, e esse número deve ultrapassar os 8 milhões até 2030. (2) As doenças e mortes relacionadas ao tabagismo são evitáveis. Esse conhecimento aumentou a importância dos progra-mas de controle e cessação do tabagismo, e, portanto, muitos países têm implementado esses programas.

Na Turquia, a luta ampla contra o consumo de cigarros começou em 26 de novembro de 1996. Em 2008, a lista de áreas livres de fumo foi expandida para incluir os corredores de edifícios públicos, as áreas externas de escolas e centros de treinamento, os shopping centers, os hotéis e os táxis. Em 19 de julho de 2009, entrou em vigor a proibi-ção de fumar nos ambientes fechados de empresas do setor de alimentação, tais como restaurantes e cafeterias.(3) As empresas que permitem o fumo no local de trabalho ou vendem cigarros para menores (indivíduos < 18 anos de idade) são multadas. As empresas que continuam a fazê-lo após as duas primeiras infrações são não só multadas, mas também estão sujeitas a fechamento. Nos primeiros quatro anos após a promulgação da lei antifumo (2008-2012), 2,2 milhões de pessoas pararam de fumar.(3) Embora fumar em casa não tenha sido proibido, o número de fumantes que fumavam em casa diminuiu. Além disso, a prevalência do tabagismo no segmento da população cons-tituído por indivíduos acima dos 15 anos de idade declinou de 33,4% para 27,1% entre 2006 e 2012.(3) Com base nos critérios estabelecidos pela Organização Mundial da Saúde,(2,4) a Turquia ocupa agora o sexto lugar no mundo e o quarto lugar entre os países europeus em termos de medidas adotadas para controlar o tabagismo.

Muitos estudos têm demonstrado que as pessoas geralmente começam a fumar antes dos 18 anos de idade. (2,5) Uma das principais formas pela qual os programas de controle do tabaco tentam reduzir o tabagismo entre a popula-ção adulta é a prevenção do mesmo. Outro foco desses programas é a cessação tabágica. Estudos recentes realiza-dos na Turquia examinaram os efeitos dos programas de controle do tabaco sobre estudantes universitários e funci-onários públicos.(6,7) Porém, há apenas um estudo desse tipo com alunos do ensino médio, e o mesmo se limitou a examinar os efeitos dissuasórios das imagens que aparecem nos maços de cigarros.(8)

Neste estudo, tentou-se determinar os fatores que afetam os hábitos de fumar de alunos do ensino médio na Tur-quia, seu nível de conhecimento sobre as medidas de controle do tabagismo adotadas no país e como eles são afe-tados pelas normas antifumo.

MÉTODOS

Sujeitos e procedimentos

Trata-se de um estudo transversal com alunos de escolas de ensino médio em Keçiören, um dos distritos de Anca-ra, capital da Turquia. O Conselho de Ética Regional e a Direção Provincial da Educação Nacional aprovaram o estu-do. No distrito de Keçiören, há vinte e nove escolas de ensino médio, com um total conjunto de 16.175 alunos do 11º ano. A amostra do estudo foi selecionada entre os alunos do 11º ano de oito escolas escolhidas aleatoriamente entre essas vinte e nove. Cada uma das escolas escolhidas era escola pública (regular), escola técnica não médica, escola técnica médica, escola pública anatoliana1 ou escola particular anatoliana.

Utilizando-se um questionário com 30 itens elaborado para os fins deste estudo; foram obtidos dados relativos a diversos aspectos da vida dos alunos avaliados: características demográficas, hábito de fumar pessoal, ambiente social e conhecimentos/pensamentos sobre as leis e normas antifumo. Esses alunos preencheram os questionários de forma anônima, sob a supervisão dos seus professores. Os questionários foram posteriormente divididos em três grupos com base no status tabágico dos participantes: fumantes atuais, definidos como indivíduos que já fumaram pelo menos 100 cigarros na vida e ainda fumavam regularmente, diariamente ou não, ou haviam parado de fumar recentemente (nos últimos 12 meses); ex-fumantes, definidos como indivíduos que haviam parado de fumar há pelo menos 12 meses; e nunca fumantes, definidos como indivíduos que nunca haviam fumado ou que haviam fumado menos de 100 cigarros na vida.(9)

Por meio dos questionários, os alunos forneceram dados sobre sexo, status tabágico de parentes de primeiro grau e amigos, tipo de escola que frequentavam e nível de sucesso acadêmico. As escolas de ensino médio foram classifi-cadas, de forma ampla, como pertencentes a um dos três grupos: escolas públicas, escolas anatolianas (públicas ou particulares) e escolas técnicas (médicas ou não).

Análise estatística

As variáveis contínuas foram comparadas utilizando-se testes t ou o teste U de Mann-Whitney. O teste do qui-quadrado foi utilizado para comparação das variáveis categóricas. Os fatores de risco para o tabagismo foram identi-ficados por meio da comparação entre alunos fumantes e alunos não fumantes. Foi então realizada uma análise multivariada utilizando-se um modelo de regressão logística do tipo forward stepwise com variável dependente. O nível de significância estatística foi definido como p < 0,05.

RESULTADOS

Havia 1.308 alunos do 11º ano matriculados nas oito escolas de ensino médio selecionadas, em conjunto. Porém, no dia da aplicação do questionário, 42 alunos faltaram às aulas. Consequentemente, foram distribuídos questioná-rios a 1.266 alunos, dos quais 22 foram excluídos do estudo por não completarem o inquérito. Portanto, a amostra do estudo foi constituída por 1.244 alunos. A média de idade dos participantes foi de 17,1  0,6 anos (variação, 15-20 anos). Dos 1.244 participantes, 697 (56%) eram mulheres. As características demográficas dos participantes são apresentadas na Tabela 1. Houve 45 alunos que não completaram o questionário de forma satisfatória. Portanto, a amostra final foi constituída por 1.199 alunos. Desses alunos, 238 (19,8%) foram classificados como fumantes, 97 (8,1%), como ex-fumantes e 864 (72,1%), como nunca fumantes. Todos os alunos classificados como ex-fumantes afirmaram que haviam parado de fumar por causa das leis antifumo. Dos 238 alunos classificados como fumantes, 173 (72,6%) eram homens. O sexo masculino apresentou correlação significativa com o tabagismo (p < 0,001).



Entre os diversos tipos de escola, a prevalência do tabagismo foi maior (31,5%) nas escolas técnicas, embora os alunos das escolas técnicas não médicas tenham sido responsáveis por 24% dessa prevalência, enquanto os das escolas técnicas médicas, por apenas 7,5%. Os alunos classificados como fumantes atuais ou ex-fumantes (n = 335 em conjunto) haviam começado a fumar com média de idade de 14,1  2,0 anos (variação, 9-17 anos), sendo que 107 (32%) haviam começado aos 15 anos e 67 (20%), aos 16 anos. Dos fumantes atuais, 30% relataram fumar 11-15 cigarros/dia, 24%, 16-20 cigarros/dia e 5%, > 20 cigarros/dia. O motivo mais frequente apresentado para ter começado a fumar foi a procura de uma fonte de conforto após um evento estressante, que foi a resposta dada por 19% dos fumantes atuais, seguido por ter inveja de um amigo, relatada por 16%; busca de prazer, relatada por 15%; pressão dos colegas, relatada por 9%; curiosidade, relatada por 7%; e como estratégia para perder peso, relatada por 4%. Além disso, 6% dos fumantes atuais relataram que, quando começaram a fumar, desconheciam os efeitos deletérios do tabagismo.

A prevalência do tabagismo foi significativamente menor entre os alunos cujo desempenho acadêmico foi classifi-cado como de sucesso do que entre aqueles em que o mesmo foi classificado como baixo (p < 0,001), enquanto foi significativamente maior entre os alunos que tinham um irmão/irmã ou amigo que fuma do que entre aqueles que não o tinham (p < 0,001 para ambos). A prevalência do tabagismo entre as pessoas próximas aos participantes foi maior (50,4%) para pais, seguida por 32,9% para amigos, 27,1% para irmãos/irmãs e 21,9% para mães.

Quando os alunos foram perguntados quem foi a primeira pessoa de que eles se lembravam fumando ao seu re-dor, 38,8% colocaram em primeiro lugar um ou ambos os pais. A diferença entre pais/mães e os outros grupos foi estatisticamente significativa (p < 0,001). Constatou-se que os hábitos de fumar dos alunos não se correlacionaram com o nível de aptidão matemática e verbal dos mesmos, nem com o nível de escolaridade e renda dos pais/mães.

A análise de regressão logística para avaliação de fumantes e ex-fumantes em conjunto (Tabela 2) revelou que os fatores de risco independentes para o tabagismo foram ser homem (p < 0,001), frequentar escola técnica não médica (p = 0,002), ter um irmão/irmã que fuma (p < 0.001), ter um amigo que fuma (p < 0,001) e ter baixo desempenho acadêmico (p = 0,0013). Constatou-se que 58,7% dos alunos classificados como fumantes atuais haviam tentado parar de fumar pelo menos uma vez na vida, com variadas taxas de sucesso - 53,6% haviam parado por menos de uma semana, 18,4%, por 1-4 semanas e 28,0%, por 5-12 semanas. Quando perguntados "Você está pensando em parar de fumar?", 54,9% dos fumantes responderam afirmativamente. Dos que pararam (ex-fumantes e fumantes que haviam parado e posteriormente começado a fumar novamente), apenas 8,1% haviam parado de fumar sim-plesmente porque queriam, sendo que os outros motivos para parar incluíram "para minha própria saúde", citado por 42,9%, e "para dar um bom exemplo para os outros", citado por 18,5%. Dos alunos classificados como fumantes atuais, 29,1% relataram que não estavam pensando em parar. Embora não tenha sido apresentado nenhum motivo predominante para esse posicionamento, 23,6% desses alunos afirmaram que adoravam fumar. Também se consta-tou que 91,4% dos nunca fumantes, 55% dos fumantes atuais e 78% dos ex-fumantes achavam que os cigarros eram prejudiciais. Quando solicitados a mencionar as doenças relacionadas ao tabagismo mais comuns, 492 alunos (42,4%) responderam "câncer de pulmão", enquanto 472 (40,7%) responderam "doenças cardiovasculares".




Em nossa avaliação da conscientização dos alunos sobre os recursos para a cessação tabágica, constatamos que 61,6% dos alunos sabiam da existência do serviço telefônico de ajuda para a cessação tabágica. Dos 238 alunos classificados como fumantes atuais, 136 (57,1%) conheciam o serviço telefônico de ajuda para a cessação tabágica. Desses 136 fumantes, 5 (3,7%) haviam ligado para o serviço mas não haviam tentado parar de fumar. A maioria dos alunos (74,7%) conhecia a legislação relativa ao programa de controle do tabaco. Essa taxa foi de 77,0% entre os nunca fumantes, 69,9% entre os fumantes e 66,7% entre os ex-fumantes.

Constatou-se que 81,8% dos alunos concordavam com as restrições e punições impostas pelas leis antifumo. A ta-xa de aprovação entre os fumantes foi de 69,9%. A comparação entre fumantes, nunca fumantes e ex-fumantes é apresentada na Tabela 3. Na opinião dos participantes, as intervenções relacionadas à legislação que foram mais efetivas na redução da prevalência do tabagismo foram a proibição da venda de cigarros a indivíduos com menos de 18 anos de idade (p = 0,003) e a exibição de curtas na TV sobre os malefícios do tabagismo (p < 0,001).




DISCUSSÃO

Neste estudo, foram avaliados alunos do ensino médio em termos de seu status tabágico, assim como de seu grau de conhecimento e concordância em relação às leis antifumo. Constatou-se que aproximadamente 20% dos alunos do ensino médio fumavam, sendo que os fumantes atuais e os ex-fumantes, em conjunto, foram responsáveis por aproximadamente 30% da amostra do estudo. Em média, os alunos haviam começado a fumar aproximadamente aos 14 anos de idade. Os principais fatores de risco para o tabagismo foram ser homem, frequentar escola técnica não médica e ter baixo desempenho acadêmico, assim como ter um irmão/irmã ou amigo que fuma. Nossos resulta-dos também indicam que, embora a maioria dos alunos fumantes achasse o tabagismo prejudicial e conhecesse os recursos disponibilizados por meio do programa de controle do tabaco, apenas uma pequena parcela (8%) havia se esforçado para parar.

Diversos estudos realizados na Turquia antes da implementação do programa de controle do tabaco mostraram que a prevalência do tabagismo entre alunos do ensino secundário e médio variava de 13,3% a 29,0%, e que a média de idade em que esses alunos começaram a fumar era de 13,2  2,7 anos.(10,11) Em um estudo realizado nos Estados Unidos, os pesquisadores constataram que a prevalência do tabagismo entre alunos do ensino fundamental e médio declinou de 65,5% para 40,5% nos primeiros nove anos após a implementação de um programa de controle do tabaco. (12) Na Turquia, a prevalência do tabagismo entre adultos diminuiu de 31,2% para 27,0% nos primeiros quatro anos após a implementação do programa de controle do tabaco.(13) Porém, até o momento, não há estudos avaliando o impacto do programa sobre os adolescentes. Embora nosso estudo tenha sido realizado após a imple-mentação do programa de controle do tabaco, constatamos que a prevalência do tabagismo entre os adolescentes é semelhante à relatada antes de o programa de controle ser implementado. Possíveis explicações para esse resultado incluem o fato de que adolescentes individualmente têm percepções imprecisas dos problemas de saúde relaciona-dos ao tabagismo ou ignoram esses futuros problemas em razão do prazer imediato advindo do tabagismo. Portanto, acreditamos que a utilização de uma linguagem compreensível e de mídias acessíveis para explicar os efeitos dele-térios do tabagismo sobre a saúde humana aos alunos, em suas escolas e casas, reduz a taxa de iniciação do hábito de fumar.

No presente estudo, foram identificados os seguintes fatores de risco independentes para o tabagismo: ser homem, frequentar escola técnica não médica, ter um irmão/irmã que fuma, ter um amigo que fuma e ter baixo desempenho acadêmico. À semelhança de outros relatos, a prevalência do tabagismo foi maior nos homens do que nas mulheres (relação homem/mulher de 3,3:1).(14,15) Essa taxa mais elevada talvez se deva ao fato de que o tabagismo entre os homens é visto como um símbolo ou confirmação da masculinidade. A pressão dos colegas é uma causa comum do início do tabagismo em adolescentes. A probabilidade de os adolescentes começarem a fumar aumenta 3 a 4 vezes quando eles têm colegas que fumam.(16) No presente estudo, a maioria dos irmãos/irmãs que fumavam eram mais velhos e eram provavelmente tidos como modelo de conduta. A implementação de leis antifumo em áreas de lazer onde os adolescentes passam tempo com os amigos, tais como cafés, campos esportivos e cinemas, pode ser um efetivo dissuasor para o início do hábito de fumar.


Ter baixo desempenho acadêmico e frequentar escola de baixo nível foram identificados com fatores de risco para o tabagismo em nosso estudo e no estudo realizado por Morin et al.(17) Além disso, constatamos que a prevalência do tabagismo foi menor nas escolas técnicas médicas. Isso demonstra que aumentar a conscientização sobre os efeitos adversos do tabagismo é um importante dissuasor. Parece que abrir espaço para cursos relacionados à saúde no sistema de ensino a partir das séries mais baixas é um meio efetivo de aumentar a conscientização e de criar uma geração livre do fumo.

Até onde sabemos, não há estudos anteriores comparando alunos de escolas técnicas médicas com os de outros tipos de escola de ensino médio em termos da prevalência do tabagismo. Porém, há estudos mostrando que a preva-lência do tabagismo é menor entre universitários da área médica do que entre os de qualquer outra área.(7,18)

Pesquisadores sugerem que as atitudes dos professores em relação ao tabagismo afetam as atitudes de seus alu-nos adolescentes.(19) No presente estudo, aproximadamente 70% dos alunos afirmaram que recomendações de professores e médicos não fumantes poderiam ser efetivas. Além disso, os alunos eram a favor de cursos escolares sobre os efeitos deletérios do tabagismo. Ademais, diversos estudos realizados em escolas mostram que campanhas antifumo têm efeitos positivos sobre os alunos.(13,20)

Em estudos anteriores, pesquisadores mostraram que adolescentes podem começar a fumar por inveja(21) ou curio-sidade, e que muitos adolescentes desconhecem os efeitos deletérios do tabagismo.(22) Em nossa população de estudo, o motivo mais frequente apresentado para ter começado a fumar foi a procura de uma fonte de conforto após um evento estressante.

Estudos realizados nos anos anteriores à implementação do programa de controle do tabaco na Turquia mostraram que 42% dos alunos do ensino médio tinham o desejo de parar de fumar, sendo que 3,1% já haviam atingido esse objetivo.(23) Em um estudo realizado nos Estados Unidos, foi relatado que embora 67% dos alunos do último ano do ensino médio quisessem parar de fumar, apenas 3% o haviam feito,(24) contra 8,1% no presente estudo. Além disso, observamos que nenhum dos que queriam parar de fumar procurou ajuda de um profissional. Constatamos que a maioria dos alunos classificados como fumantes atuais conheciam o serviço telefônico de ajuda para a cessação tabágica. Porém, apenas alguns desses alunos haviam ligado para o serviço e recebido informações, e nenhum deles havia tentado parar de fumar. Portanto, concluímos que esses jovens ainda não haviam atingido o nível ideal de conscientização. Mesmo assim, pode-se dizer que o programa de controle do tabaco aumentou a taxa de cessação tabágica entre os adolescentes, como foi relatado para a população adulta.(13) Outro estudo realizado na Turquia examinou os efeitos das leis antifumo sobre estudantes universitários.(25) Até onde sabemos, o nosso estudo é o primeiro a examinar os efeitos dessas leis sobre alunos do ensino médio na Turquia.

No presente estudo, constatou-se que 74,7% dos alunos do ensino médio avaliados conheciam o conteúdo das leis antifumo e que aproximadamente 81,8% consideravam as penas apropriadas. Aproximadamente 60% dos alunos afirmaram que os curtas informativos sobre os malefícios do tabagismo, exibidos na TV, eram impressionantes e aprovavam o desfoque de imagens de tabagismo em filmes e séries de TV. Os alunos classificados como ex-fumantes ou nunca fumantes aprovavam as limitações impostas pelas leis antifumo em maior proporção do que os classificados como fumantes atuais. Constatamos que, na opinião dos alunos avaliados, as intervenções mais efeti-vas na redução da prevalência do tabagismo foram a proibição da venda de cigarros para pessoas com menos de 18 anos de idade e a exibição de curtas na TV sobre os malefícios do tabagismo. Lazuras et al.(26) e Chaaya et al.(14) relataram resultados semelhantes em estudos com alunos de escolas secundárias na Grécia e estudantes universitá-rios no Líbano, respectivamente. A maior conscientização trazida pelas leis antifumo é um desdobramento muito positivo.

Os autores de outro estudo realizado na Turquia constataram que 22,5% dos alunos do ensino médio que pararam de fumar foram influenciados pelas advertências sobre os malefícios do tabagismo nas embalagens de cigarro.(27) Antes da promulgação da legislação antifumo na Turquia, a proporção de pessoas que achavam as advertências nas embalagens de cigarro efetivas era de aproximadamente 20%.(28) Após a promulgação da legislação, essa propor-ção aumentou para 80%.(29) Em nosso estudo, encontramos uma proporção semelhante (aproximadamente 70%). As campanhas antifumo que empregam mídias visuais têm se mostrado efetivas na redução do número de pessoas que começam a fumar, na redução do número de cigarros fumados e no aumento da taxa de cessação tabágica.(30)

Uma das limitações do nosso estudo é que o mesmo enfocou um único distrito, e, portanto, nossos resultados talvez não representem com precisão o pensamento de todos os alunos do ensino médio na Turquia. Outra limitação foi que, em razão do grande número de participantes, os questionários foram aplicados sob a supervisão do professor em cada sala de aula e não em entrevistas individuais face a face. Mesmo assim, acreditamos que nossos resultados são relevantes e indicativos das tendências gerais no país.

Em conclusão, pode-se afirmar que o tabagismo é bastante comum entre os alunos do ensino médio na Turquia. Embora a taxa de procura por ajuda profissional seja baixa, constatamos que esses adolescentes conhecem as leis antifumo. Medidas significativas para aumentar a conscientização sobre os malefícios do tabagismo entre os estudan-tes da Turquia incluem a implementação mais decisiva das leis antifumo, a implementação de programas educacio-nais de melhor qualidade nas escolas, a melhora do desempenho acadêmico e o fornecimento de informações abrangentes sobre os efeitos deletérios do tabagismo. Acreditamos que o estabelecimento de centros de saúde para que os alunos recebam orientação e ajuda profissional nas escolas também pode ser útil para ajudar os alunos que querem para de fumar, ao invés de esperar que esses alunos procurem ajuda em serviços de saúde. O apoio da família e a ajuda profissional ajudarão a diminuir a prevalência do tabagismo e a aumentar a taxa de cessação tabágica entre os adolescentes. Acreditamos também que, para serem bem-sucedidas, as campanhas antifumo de-vem levar em consideração as opiniões da população de adolescentes antes de delinearem planos de ação para o controle do tabaco.

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