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Curso de Atualização - Micoses

Capítulo 3 - Criptococose pulmonar

Chapter 3 - Pulmonary cryptococcosis

Cecília Bittencourt Severo, Alexandra Flávia Gazzoni, Luiz Carlos Severo

ABSTRACT

Cryptococcosis is a systemic mycosis caused by two species of the encapsulated basidiomycetes, Cryptococcus neoformans and C. gattii, which, respectively, cause infection in immunocompromised individuals and in immunologically normal hosts. Patients with T-cell deficiencies are more susceptible to this infection. The spectrum of the disease ranges from asymptomatic pulmonary lesions to disseminated infection with meningoencephalitis. The medical relevance of cryptococcosis increased dramatically as a consequence of the AIDS epidemic and organ transplants.

Keywords: Cryptococcus neoformans; Pneumonia; Acquired immunodeficiency syndrome; Amphotericin B; Fluconazole.

RESUMO

Criptococose é uma micose sistêmica causada por duas espécies do basidiomiceto encapsulado, Cryptococcus neoformans e C. gattii, que, respectivamente, causam infecção em indivíduos imunocomprometidos e em hospedeiros imunocompetentes, respectivamente. Pacientes com deficiência em células T são mais suscetíveis. A infecção se inicia por lesões pulmonares assintomáticas e a doença disseminada frequentemente cursa com meningoencefalite. A importância médica da criptococose aumentou significativamente em consequência da epidemia da AIDS e dos transplantes de órgãos.

Palavras-chave: Cryptococcus neoformans; Pneumonia; Síndrome da imunodeficiência adquirida; Anfotericina B; Fluconazol.

Introdução

Criptococose é a infecção causada pelo basidiomiceto naturalmente encapsulado do gênero Cryptococcus que, recentemente, tornou-se o mais importante patógeno fúngico oportunístico.(1) Com a epidemia da AIDS, a espécie C. neoformans tornou-se a infecção oportunística criticamente mais importante. Além disso, o C. gattii causou recentemente uma epidemia localizada de criptococose em humanos e animais aparentemente imunocompetentes na ilha de Vancouver, no Canadá.(2)

Atualmente, Cryptococcus spp. é classificado em cinco sorotipos capsulares e oito genótipos moleculares. A classificação do sorotipo é baseada nas reações de aglutinação dos antígenos dos polissacarídeos capsulares. As cepas com sorotipos A e D e o híbrido AD pertencem a C. neoformans, enquanto as cepas com sorotipos B e C têm sido classificadas como C. gattii. As cepas do sorotipo A foram nomeadas C. ­neoformans var. grubii, e as cepas do sorotipo D foram nomeadas C. neoformans var. neoformans.(3) Essa classificação baseou-se nas diferenças das estruturas capsulares e de DNA, assim como na comparação completa do sequenciamento genômico entre esses dois sorotipos (variedades).(3) Além disso, através de novas informações moleculares e de estudos evolucionários, cada uma das duas espécies compreende ainda quatro tipos moleculares: C. neoformans (VNI a VNIV) e C. gattii (VGI a VGIV).(1)

O ciclo de vida de Cryptococcus spp. é composto por dois estágios, sexual e assexual. Cryptococcus neoformans (variedades grubii e neoformans) e Cryptococcus gattii são ditas variedades anamórficas (assexuadas). Como variedades teleomórficas (sexuadas), esses dois correspondem a Filobasidiella neoformans e F. bacillispora, respectivamente.(4)

A virulência do gênero Cryptococcus está associada à produção de oxidases e de proteases e às propriedades antifagocíticas do polissacarídeo capsular. Formas atípicas não-capsuladas apresentam menor patogenicidade. Um ambiente com concentrações abundantes de dióxido de carbono favorece a bioformação da cápsula.(5)

Cryptococcus spp. apresenta-se nos tecidos do hospedeiro como levedura encapsulada (forma assexual), fato que o torna único entre os fungos patogênicos. É observado com ou sem brotamento, mas pode ser visto multibrotante, pobremente encapsulado, sem cápsula ou como pseudo-hifa.(6-9)

No ambiente, C. neoformans é encontrado associado a excretas de pombos e em ocos de árvores por todo mundo. Por anos, C. gattii foi encontrado em regiões tropicais e subtropicais. Foi associado primariamente com eucaliptos, que foram considerados seu nicho ambiental. Entretanto, a emergência sem precedentes de muitos isolados de C. gattii na ilha de Vancouver mostra que a distribuição e a ecologia do C. gattii está mudando com a sua habilidade de associar-se a uma ampla variedade de árvores, como abetos e carvalhos.(1,10)
A hipótese teoricamente mais plausível da infecção é pelo diâmetro (1,2-1,8 µm) dos propágulos fúngicos (basidiósporos) que possam ter deposição alveolar e, na temperatura de 37°C, transformam-se em leveduras capsuladas.(11,12) O hospedeiro desenvolve um complexo linfonodal pulmonar primário. Na maioria dos casos, a inalação de Cryptococcus spp. produz uma infecção pulmonar assintomática autolimitada, e as leveduras permanecem latentes dentro desse complexo, morrem ou, com um posterior evento de imunossupressão, são reativadas e causam doença. Essa infecção primária pode também causar sintomas pulmonares no hospedeiro, em caso de imunossupressão ou de um grande inóculo da levedura. A disseminação pulmonar a outros órgãos pode potencialmente ocorrer como resultado de uma infecção primária ou secundária.

No estágio de disseminação da localização pulmonar, o cérebro torna-se o órgão com maior propensão a ser o sítio alvo da doença clínica. Por isso, a maioria dos dados é de manifestações da doença no pulmão ou no sistema nervoso central (SNC).(13) Esse tropismo pelo SNC é atribuído à concentração ótima de nutrientes assimiláveis pelo fungo (tiamina, ácido glutâmico, glutamina, dopamina, carboidratos e minerais), existentes no líquor, à falta de atividade do sistema complemento no líquor e à fraca ou ausente atividade de resposta inflamatória do tecido cerebral.(14)

Antes da epidemia do HIV, a infecção criptocócica era uma infecção sistêmica incomum que ocorria em pacientes com outras causas de imunodepressão, geralmente associada ao uso de corticoides, diabete melito, doença de Hodgkin, lúpus eritematoso sistêmico ou a outro tratamento imunossupressivo.(15,16) Entretanto, durante as últimas duas décadas, a incidência da criptococose aumentou significativamente. A infecção por HIV esteve associada a mais de 80% de casos de criptococose em todo o mundo.(17)

Na era pré-terapia antiretroviral combinada (ARVc), a infecção criptocócica tornou-se a maior infecção oportunística e a maior causa de morte em pacientes infectados pelo HIV com CD4 < 100 células/µl. Após a potente terapia ARVc tornar-se disponível, a incidência da criptococose diminuiu significativamente, mas a incidência da infecção criptocócica em pacientes não-infectados pelo HIV não mudou durante esse período.(18,19) Embora o aumento do uso de ARVc esteja associado à diminuição da incidência de casos de criptococose em países desenvolvidos, a incidência e a mortalidade por criptococose ainda é extremamente alta em países com epidemia de HIV incontrolada e acesso limitado aos medicamentos e aos cuidados de saúde.(1,20) Em países mais desenvolvidos, o número de pacientes com criptococose não desapareceu porque os grupos de risco continuam a se ampliar, devido ao desenvolvimento na medicina de transplantes e à criação de novas terapias imunossupressoras.(21) No Brasil, a criptococose é um problema de saúde pública nos pacientes com AIDS.(22,23)

Entre os casos de criptococose humana, C. neoformans var. grubii (sorotipo A) é a espécie mais comumente isolada em amostras clínicas por todo o mundo.(24) Esse sorotipo totaliza mais de 95% dos casos de criptococose. C. neoformans var. neoformans (sorotipo D - menos termotolerante) comumente causa doença em alguns países europeus e nos Estados Unidos.(1) Até recentemente, C. gattii (sorotipo B e C) era encontrado causando criptococose em áreas tropicais e subtropicais, como Austrália, sudoeste da Ásia, África Central e nas áreas tropicais e subtropicais das Américas.(25) No Brasil, estudos revelam que o sorotipo A é o mais prevalente, seguido dos sorotipos B, D e AD.(26)

Manifestações clínicas

O SNC e o trato respiratório são os órgãos mais acometidos em infecções por C. ­neoformans e C. gattii., embora outros possam ser infectados, como pele, próstata, olhos, ossos, trato urinário e sangue.(27,28) Na realidade, essa levedura pode causar doença em qualquer órgão do corpo humano, e a disseminação da criptococose pode ocorrer em múltiplos órgãos de pacientes gravemente imunossuprimidos.(29-31)
Anteriormente, considerava-se que infecções por C. neoformans e C. gattii causavam manifestações clínicas similares. Entretanto, evidências confirmam que diferentes manifestações clínicas podem ocorrer nessas duas espécies.(32,33) Por exemplo, C. gattii causa doença em hospedeiros imunocompetentes que têm massas inflamatórias significativas (criptococomas) e comumente produzem sequela neurológica que requer cirurgia e terapia antifúngica prolongada.(33) Por outro lado, C. neoformans acomete pacientes imunodeprimidos, causando pequenas lesões radiológicas pulmonares associadas à meningite (Figura 1) e, devido a sua atividade proteolítica, apresenta criptococcemia e criptococúria, manifestações raramente encontras em
infecções por C. gattii.(7)



A apresentação da criptococose tem algumas diferenças entre pacientes infectados com HIV, comparados a não-infectados.(30) HIV associado com a criptococose produz maior envolvimento extrapulmonar e do SNC, além de alta taxa de positividade nos exames com tinta da china (nigrosina), hemocultura positiva e poucas células inflamatórias no líquor. Esses resultados clínicos sugerem que pacientes infectados com HIV apresentam alta concentração de organismos e pouca reação inflamatória no sítio da infecção.

Além de ser a principal porta de entrada desses fungos, o pulmão é o sítio mais comum da ­criptococose, apresentando diversas manifestações clínicas, que variam de infecção assintomática, como um nódulo solitário, até pneumonia grave.(30) Pacientes que têm criptococose pulmonar aguda podem apresentar febre, tosse produtiva, dor torácica e perda de peso.(34)

C. neoformans e C. gattii têm uma predileção a invadir o SNC e podem causar meningite aguda, subaguda ou crônica, assim como meningoencefalite grave. Os sinais e sintomas estão geralmente presentes por diversas semanas e incluem cefaleia, febre, neuropatia craniana, alteração da consciência, letargia, perda de memória, sinais de irritação meníngea e coma.(30)

Diagnóstico radiológico

Os principais sinais radiológicos são nódulos isolados ou múltiplos, massas de localização subpleural e consolidação com broncograma aéreo. Outros achados menos frequentes incluem derrame pleural; linfoadenopatia hilar e opacidade reticulonodular difusa; lesões endobrônquicas resultando em obstrução das vias aéreas com colapso pulmonar; e achados que mimetizam metástases pulmonares.(1,35,36)

A criptococose pulmonar isolada (sem metástase cerebral) ou com massa cerebral (com metástase cerebral) causada por C. gattii pode clínica e radiologicamente simular câncer de pulmão (Figuras 2 e 3).(37) Tem sido descritos casos de consolidação do lobo superior com apresentação típica de síndrome de Pancoast.(38)








Pacientes imunocomprometidos com ­criptococose apresentam mais frequentemente manifestações no SNC do que nos pulmões.(39) De fato, mais de 90% dos pacientes que tinham HIV/AIDS com criptococose pulmonar já ­apresentavam diagnóstico de criptococose no SNC.(1) Em contraste, o envolvimento do SNC em pacientes com criptococose pulmonar soronegativos para HIV é menos frequente.(1)

Diagnóstico laboratorial

Exame direto

O exame microscópico direto para pesquisa de leveduras encapsuladas no líquido cefalorraquidiano (LCR) utilizando-se tinta da china é um teste amplamente utilizado, rápido, de baixo custo e que não exige tecnologia avançada. Essa técnica pode ser realizada imediatamente após a punção lombar, visualizando-se as leveduras encapsuladas com diâmetro médio de 5-20 µm. A microscopia apresenta 30-50% de sensibilidade em casos de meningite criptocócica em pacientes sem AIDS, e até 80% de sensibilidade em pacientes com meningite criptocócica relacionada à AIDS.(1)

Exame histopatológico

A identificação histopatológica da criptococose é realizada pelas técnicas histoquímicas básicas - H&E e Gomori-Grocott (GMS) - e especiais - mucicarmim de Mayer (MM) e Fontana-Masson (FM; Tabela 1).(40,41)
De acordo com a classificação de Schwartz, a criptococose é dividida em duas categorias histológicas - reativa e paucireativa - baseadas nas reações teciduais do hospedeiro e reveladas ao H&E.(42) O padrão reativo caracteriza-se pela resposta inflamatória granulomatosa composta por histiócitos, células gigantes multinucleadas e infiltração linfocitária.(41,42-46) As leveduras encontram-se primariamente intracelulares (fagocitose).(41,46) Ocasionalmente, regiões de necrose estão associadas a infiltrados neutrofílicos.(42,43,46) Adicionados a esses, também encontram-se nódulos fibróticos - criptococomas, considerados uma forma variante do padrão reativo. Esses são formados por tecido fibrótico circundante, apresentando áreas centrais de necrose, contendo leveduras e um número variável de células inflamatórias no seu interior (Figura 4).(42,47) De acordo com dados da literatura, a forma variante está relacionada à infecção causada por C. gattii.(48)







O padrão paucireativo caracteriza-se pela mínima ou ausente resposta inflamatória.(42,43) Há presença de numerosos microrganismos esféricos e/ou ovais, medindo 2-20 µm de diâmetro, circundados por halo claro e dispostos extracelularmente.(40,42,43) Em alguns casos, observa-se destruição total da arquitetura tecidual (Figura 5).(40) De acordo com alguns estudos, o padrão inflamatório paucireativo pode ser indicativo de mau prognóstico.(42,43)



A coloração de GMS é largamente utilizada na pesquisa dos elementos fúngicos, tanto em cortes de tecido, quanto em esfregaços.(41) Essa coloração revela características ­morfológicas, como parede celular e brotamentos, além de evidenciar halos claros perinucleares circundantes aos microrganismos. As lesões ativas contêm numerosas estruturas fúngicas brotantes. Brotamentos únicos ou múltiplos com estreita base são comuns (Figura 5).(40) No que diz respeito às formas incomuns, que incluem pseudo-hifa, estruturas semelhantes a tubo germinativo e cadeia de leveduras brotantes são facilmente evidenciadas pela coloração de GMS.(9,40,49)

A coloração de MM (Figura 5) é considerada um método específico de visualização da estrutura mucopolissacarídica capsular de Cryptococcus spp.(8,30,40,42) Através da coloração magenta da cápsula, é possível diferenciar a levedura de outros fungos similares em tamanho e forma. (41,50)

A coloração de FM (Figura 5) evidencia a melanina presente na parede celular fúngica.(30,41) Sua utilização está restrita a casos em que há resultados insuficientes na técnica de MM que possam confirmar a presença de Cryptococcus spp. Dessa forma, ela é ­considerada a alternativa diagnóstica para casos de infecções por organismos deficientes de estrutura capsular morfologicamente sugestivos de Cryptococcus spp.(41)

Índice de brotamento e índice carminofílico

Caracteriza-se a atividade biológica do Cryptococcus spp. através de uma escala confiável desenvolvida para determinar o índice de brotamento (IB) e o índice carminofílico (IC) da levedura.(42,43). O IB é calculado através da porcentagem de microrganismos que exibem um ou mais brotamentos, sendo indicativo de replicação in vivo.(42) O IC é calculado pela determinação da porcentagem de microrganismos com cápsula, corada pela técnica histoquímica de MM, sendo indicativo de síntese capsular.(43) De acordo com estudos, o padrão histológico paucireativo expressa um maior IB e IC, quando comparado ao padrão reativo.(42) Dessa forma, há uma correlação inversa entre alta produção capsular e menor intensidade da resposta inflamatória. Segundo Schwartz, a escala é potencialmente útil na interpretação da resposta inflamatória do hospedeiro, no prognóstico e na atividade biológica, demonstrando que a resposta granulomatosa associa-se ao controle da infecção.

Diagnóstico diferencial

A identificação histopatológica dos agentes fúngicos é um excelente método de diagnóstico, devido ao fato de que as estruturas são facilmente detectadas através das técnicas histoquímicas.(14)

Em Cryptococcus spp. com cápsula íntegra, as características micromorfológicas são diferenciadas e o diagnóstico é único, desde que os microrganismos sejam usualmente associados a uma mínima resposta inflamatória.(14,40) No fungo deficiente de cápsula, as características histológicas são bastante inespecíficas, encontrando-se em outras patologias de origem infecciosa.(41)

O uso das colorações especiais justifica-se pelo fato de que Cryptococcus spp. mimetiza outros fungos leveduriformes devido a sua variável micromorfologia.(51) O reconhecimento da cápsula pela coloração de MM é o primeiro passo para distinguir a levedura de outros fungos similares em tamanho e forma.(40,41,51) A maior dificuldade ocorre com microrganismos deficientes de cápsula, pois eles confundem-se, devido ao seu menor tamanho, com Histoplasma capsulatum; esférulas imaturas de Coccidioides immitis; formas pequenas de Blastomyces dermatitidis e Paracoccidioides brasiliensis; Candida glabrata; e Sporothrix schenckii.(7,51-54) Nesses casos, a coloração histoquímica especial de FM é utilizada, proporcionando diagnóstico diferencial entre as formas micromorfológicas não usuais de Cryptococcus spp. e as estruturas fúngicas que simulam essa levedura.(41,51)

Cultivo

C. neoformans e C. gattii crescem facilmente a partir de amostras biológicas semeadas em meios de cultivo de rotina, como ágar Sabouraud-dextrose, e as colônias podem ser observadas após 48-72 h de incubação a 30-35°C em condições aeróbicas.

Os isolados de Cryptococcus spp. podem ser diferenciados das espécies de Candida spp. através do meio enriquecido com sementes de Guizotia abyssinica (ágar niger), que contém substratos fenólicos e detecta a atividade da fenoloxidase presente em Cryptococcus spp. formando melanina, de modo que as colônias ficam marrons.

As espécies podem ser determinadas baseando-se nas características das cores no meio de L-canavanina-glicina-azul de bromotimol.(55)

Exame sorológico

A detecção do antígeno do polissacarídeo capsular de Cryptococcus spp. no soro e no líquor tem sido bastante utilizada, e é um dos principais testes sorológicos realizados na rotina micológica. Os testes utilizam partículas de látex revestidas com anticorpos policlonais para a cápsula criptocócica. A sensibilidade e a especificidade desses testes de aglutinação para antígeno criptocócico encontram-se entre 93-100% e 93-98%, respectivamente.(56)

Tratamento

Quanto ao diagnóstico de criptococose pulmonar, é fundamental garantir que a doença não esteja disseminada, especialmente para o SNC, devido à necessidade de um tratamento mais agressivo para a neurocriptococose. A escolha do antifúngico depende do sítio de infecção e da imunidade do paciente. Os ­principais ­antifúngicos são anfotericina B (0,5-1,0 mg/kg/dia) e seus derivados lipídicos, fluconazol (400 mg/dia) e 5-flucitosina (100 mg/kg/dia, em combinação com anfotericina B devido ao frequente surgimento de resistência em monoterapia).(5) Infelizmente, a 5-flucitosina não está disponível no Brasil.

Em casos de criptococose pulmonar isolada, de gravidade leve a moderada, o tratamento pode ser realizado com fluconazol ou itraconazol (200-400 mg/dia) por 6-12 meses. Se houver disseminação ao SNC, o itraconazol não deve ser utilizado, por não apresentar boa penetração no líquor.(5)

O desoxicolato de anfotericina B tem sido administrado com sucesso terapêutico em casos de meningite criptocócica, por apresentar rápida depuração do Cryptococcus spp. Entretanto, essa droga pode ocasionar nefrotoxicidade importante. O uso de anfotericina B lipossomal tem a vantagem de reduzir essa toxicidade.(5)

O tratamento difere com a espécie de Cryptococcus spp. C. gattii requer maior dose de anfotericina B, tratamento mais prolongado e frequentemente demanda cirurgia. Da mesma forma, as sequelas são mais frequentes, e a mortalidade é maior.

O uso apropriado dos agentes antifúngicos diminui a mortalidade significativamente, mas requer terapia continuada e prolongada para prevenir recidivas.(57)

Prevenção

Prevenção à infecção

Não existe evidência que a exposição a fezes de pombos esteja associada ao aumento do risco para desenvolver criptococose. Entretanto, é aconselhável evitar sítios contaminados com fezes de aves.

Prevenção à doença

Realizar a prova do látex de rotina para a presença de antígeno criptocócico no soro em pessoas assintomáticas não é recomendado, devido à baixa probabilidade de diagnóstico.(57)

Estudos clínicos prospectivos mostram que o uso de fluconazol e itraconazol pode reduzir a frequência da doença entre pacientes com AIDS. Entretanto, a profilaxia antifúngica não deve ser utilizada como rotina devido à infrequência da micose, ao pouco benefício na sobrevivência, à possibilidade de interações medicamentosas, ao desenvolvimento de resistência antifúngica e ao custo do tratamento. Contudo, a profilaxia deve ser considerada para pacientes com linfócito T CD4+ < 50 células/µl. Nesses casos, a droga de escolha é o fluconazol (100-200 mg/dia).(57)

O uso de profilaxia secundária em pacientes curados, previamente tratados, previne a recorrência da infecção.(43) Essa deve ser mantida até que os níveis de linfócitos T CD4+ permaneçam por mais de 6 meses acima de 200 células/µl.(57)


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Trabalho realizado no Laboratório de Micologia, Hospital Santa Rita, Complexo Hospitalar Santa Casa de Porto Alegre e no Departamento de Medicina Interna, Faculdade de Medicina, Universidade Federal do Rio Grande do Sul - UFRGS - Porto Alegre, RS, Brasil.
Endereço para correspondência: L. C. Severo. Laboratório de Micologia, Hospital Santa Rita, Santa Casa - Complexo Hospitalar, Rua Professor Annes Dias, 285, CEP 90020-090, Porto Alegre, RS, Brasil.
Tel 55 51 3214-8409. Fax 55 51 3214-8435. E-mail: severo@santacasa.tche.br ou severo@pesquisador.cnpq.br
Recebido para publicação em 3/8/2009. Aprovado, após revisão, em 5/8/2009.
Apoio financeiro: Nenhum.



Sobre os autores

Cecília Bittencourt Severo
Doutoranda em Ciências Pneumológicas. Programa de Pós-Graduação em Ciências Pneumológicas, Universidade Federal do Rio Grande do Sul - UFRGS - Porto Alegre, RS, Brasil.

Alexandra Flávia Gazzoni
Pós-doutoranda. Universitat Rovira, Virgili, Espanha.

Luiz Carlos Severo
Professor Associado. Departamento de Medicina Interna, Faculdade de Medicina, Universidade Federal do Rio Grande do Sul - UFRGS - Porto Alegre (RS) Brasil.

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