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Classificação e avaliação diagnóstica da hipertensão pulmonar

2005 - Vol.31 - Supplement 2

INTRODUÇÃO

A hipertensão arterial pulmonar (HAP) com-preende um conjunto de doenças que têm acha-dos patológicos comuns, porém apresentam dife-renças fisiopatológicas e prognósticas. Hemodina-micamente define-se por: pressão média de arté-ria pulmonar > 25 mmHg em repouso ou > 30mmHg durante exercício, com pressão de oclusão de ar-téria pulmonar ou pressão de átrio esquerdo me-nor que 15 mmHg, medidas através de cateterismo cardíaco direito.(1-2)

A hipertensão pulmonar também pode ser identificada pelo ecocardiograma, através da esti-mativa da pressão sistólica da artéria pulmonar, calculada a partir da velocidade de regurgitação tricúspide e da pressão de átrio direito. O conhecimento a respeito da HAP aumentou expressivamente nos últimos dez anos, tornando necessária a revisão de conceitos e classificações previamente estabelecidos. Na década de 1970, a hipertensão pulmonar (HP) era classificada de acor-do com a histopatologia em: hipertensão pulmo-nar por arteriopatia, hipertensão pulmonar venosa e hipertensão pulmonar tromboembólica.(3)

Na década de 1980, novas condições associa-das à hipertensão arterial pulmonar foram iden-tificadas, tais como: hipertensão pulmonar nos pacientes infectados pelo vírus da imunodeficiência humana, doenças hepáticas que cursavam com hipertensão portal, doenças do tecido conjuntivo e uso de anorexígenos. Entretanto, em um grupo de pacientes não se identificava nenhum fator predisponente à HP. No consenso do American College of Chest Physicians de 1993, este grupo manteve a denominação de hipertensão pulmonar primária e as demais condições foram agrupadas como hipertensão arterial pulmonar secundária.(4)

Em decorrência do grande avanço que se se-guiu no conhecimento sobre a HAP e com o surgimento de novas drogas para o seu tratamen-to, tornou-se necessária nova classificação para a HP. A classificação de 1998, de Evian (França), baseou-se nos mecanismos fisiopatológicos da HP e nos territórios vasculares predominantemente envolvidos pela doença. A divisão da HAP era feita em cinco grupos: HAP, HP venosa, HP associada a doenças respiratórias e/ou hipoxemia, HP devida a doença trombótica e/ou embólica crônica, e HP devida a doenças que afetam diretamente a vasculatura pulmonar.(2, 5)

Até 1998, a denominação HAP secundária en-globava um grupo de doenças que compar-tilhavam aspectos histológicos e fisiopatológicos semelhantes, porém eram muito heterogêneas em outros aspectos. Pela classificação adotada em Evian, optou-se por substituir o termo HAP secun-dária por HAP relacionada a estas condições (por exemplo, HP relacionada à esclerodermia). Entre-tanto, manteve-se a denominação HP primária para denominar o subgrupo composto pela hiperten-são arterial pulmonar idiopática (HAPI) e pela hiper-tensão arterial pulmonar familiar.(5-6)

Em 2003, durante a Terceira Conferência Mun-dial em Hipertensão Pulmonar, realizada em Veneza (Itália), a classificação foi revisada e adquiriu o formato atualmente conhecido. As modificações mais expressivas foram: apesar de ser um termo consagrado historicamente para definir a hiper-tensão pulmonar de causa desconhecida, a deno-minação de hipertensão pulmonar primária deixou de existir, pois não fazia sentido mantê-la, já que o conceito de hipertensão pulmonar secundária havia sido abandonado; as doenças que apresen-tam comprometimento veno-capilar intenso, po-rém que também cursam com arteriopatia, foram integradas à HAP, entre elas a doença veno-oclusiva e a hemangiomatose capilar pulmonar; as outras doenças que afetam diretamente a vasculatura pulmonar passaram a ser denominadas de mis-celânea; a hipertensão pulmonar venosa passou a compreender apenas as doenças ventriculares ou atriais esquerdas e as doenças valvares esquerdas. A compressão vascular extrínseca deixou de ser classificada como hipertensão pulmonar venosa e passou a integrar o grupo miscelânea(5-6) (Quadro 1).

A esquistossomose ocupa lugar de destaque entre as causas de HP no Brasil, onde se estima que existam 8 a 10 milhões de indivíduos para-sitados. A prevalência de cor-pulmonale varia de 1% a 5% de todos os casos infectados e é ainda maior entre os pacientes com a forma hepato-esplênica.(7) Em um estudo anatomopatológico, a prevalência da forma hepato-esplênica associada à HP chegou a 7,7%(8). Todavia, ainda não há um registro nacional capaz de fornecer informações mais precisas e detalhadas sobre esta doença no nosso país.

Além da classificação da nomenclatura, tam-bém se definiu a graduação do comprometimento funcional dos pacientes com HP, para caracterizar o impacto inicial da doença nas atividades diárias dos pacientes, fazer o seguimento, tendo em vista as intervenções terapêuticas adotadas, e ainda para orientação prognóstica. Com estes objetivos ado-tou-se, em Evian, a classificação funcional da New York Heart Association (NYHA), modificada para HP(5-6) (Quadro 2).

Estima-se que a incidência anual da HAPI na população geral seja em torno de um a dois casos por milhão.(9) Grande parte dos dados epide-miológicos existentes foi obtida no Registro Nacio-nal, realizado nos EUA e publicado em 1987. Esse estudo reuniu no grupo de hipertensão pulmonar primária os subgrupos: HAPI, hipertensão arterial pulmonar familiar e HAP relacionada ao uso de anorexígenos.(1)

Considerados os três diagnósticos, a incidên-cia é maior nas mulheres(1,7:1). Compromete pre-dominantemente indivíduos jovens. Entre as mu-lheres a prevalência é maior na terceira década e entre os homens na quarta década de vida. Não há predomínio racial. Cinco por cento dos paci-entes que participaram do Registro Nacional nor-te-americano tinham usado anorexígenos no pas-sado e 6% tinham história familiar de hipertensão arterial pulmonar.(1) Mais recentemente, o caráter familiar foi relacionado a mutações no gene BMPRII.(10-11) A sobrevida média dos pacientes, an-tes do surgimento e uso rotineiro das novas dro-gas disponíveis para tratar a HP, era de 2,8 anos após o diagnóstico.(12)

Houve um grande aumento da incidência de HAP na década de 1960, na Europa, e um novo surto no final da década de 1980 e início dos anos 1990, nos EUA, relacionados ao uso de supressores do apetite, marcadamente o aminorex, a fenflu-ramina e a dexfenfluramina. Em um estudo de caso controle, o uso dessas drogas associou-se com um risco aumentado para HAP. Outros estudos confir-mam o aumento de risco de HAP relacionado ao uso de supressores de apetite e a sua intensifica-ção após seu uso prolongado.(13) A sobrevida dos pacientes que desenvolveram HAP relacionada ao uso de anorexígenos parece ser menor do que a dos com HAPI.(14)

Quadro 1 - Classificação da hipertensão pulmonar, Veneza, 2003

1-Hipertensão arterial pulmonar

1.1-Idiopática

1.2-Familiar

1.3-Associada a:

1.3-1. Doenças vasculares do colágeno

1.3-2. Shunts sistêmico-pulmonares congênitos

1.3-3. Hipertensão portal

1.3-4. Infecção pelo vírus da imunodeficiência humana

1.3-5. Drogas/toxinas

1.3-6. Outras (tireoidopatias, telangectasia familiar hereditária,
hemoglobinopatias, doença de Gaucher, doenças mieloproliferativas, esplenectomia)

1.4- Associada a acometimento capilar/venoso significativo

1.4-1. Doença pulmonar veno-oclusiva

1.4-2. Hemangiomatose capilar pulmonar

1.5- Hipertensão persistente do recém-nascido


2-Hipertensão venosa pulmonar

2.1- Cardiopatia de câmaras esquerdas

2.2- Valvopatias à esquerda


3-Hipertensão pulmonar associada a pneumopatias e/ou hipoxemia

3.1- doença pulmonar obstrutiva crônica

3.2- Pneumopatia intersticial

3.3- Doenças respiratórias relacionadas ao sono

3.4- Hipoventilação alveolar

3.5- Exposição crônica a altas altitudes

3.6- Anormalidades do desenvolvimento


4-Hipertensão pulmonar devido a doença embólica e/ou trombótica crônica

4.1- Obstrução tromboembólica das artérias pulmonares proximais

4.2- Obstrução das artérias pulmonares distais

4.3- Embolia pulmonar não-trombótica (tumor, parasitas, material estranho)


5-Miscelânea

Sarcoidose, histiocitose X, linfangioleiomiomatose, compressão dos vasos pulmonares

(adenopatia, tumor, mediastinite fibrosante)




Entre as doenças do tecido conjuntivo, a preva-lência da HAP isolada está marcadamente elevada na esclerose sistêmica forma limitada, antigamen-te conhecida como síndrome CREST (calcinose, fenômeno de Raynaud, dismotilidade esofágica, esclerodactilia e telangiectasia).(15-16)

Os dados a respeito da prevalência da HAP na esclerodermia são bastante variáveis, chegando até 50%. Em um estudo recente, a prevalência de HAP, comprovada pela hemodinâmica, foi de 12%. Os pacientes que tinham fibrose pulmonar associada a HAP tenderam a ter pior sobrevida, quando com-parados aos que não apresentavam compro-metimento do parênquima pulmonar.(15) Quando comparados com pacientes que têm HAPI, os pa-cientes com HAP relacionada à esclerodermia apre-sentam pior prognóstico e pior resposta ao tratamento.(15-16)


Pacientes com infecção pelo vírus da imuno-deficiência humana e pacientes com hipertensão portal também apresentam maior chance de de-senvolver HAP. A incidência de HAP entre os paci-entes com o vírus da imunodeficiência humana é estimada em torno de 0,5%(17) e o prognóstico melhora com a redução da carga viral.(18) Já nos pacientes com hipertensão portal, a prevalência é de cerca de 0,6% a 2%, e entre os candidatos a transplante hepático chega a 8,5%.(19-20)

HIPERTENSÃO ARTERIAL PULMONAR IDIOPÁTICA

Apresentação clínica

Os sintomas dos pacientes com hipertensão pulmonar são inespecíficos. A dispnéia relaciona-da aos esforços é o sintoma mais precoce e freqüente. Tem caráter progressivo e reflete a inca-pacidade do sistema cardiovascular em aumentar o débito cardíaco no esforço. Outros sintomas que podem estar presentes são: fadiga, pré-síncope, síncope, dor torácica e palpitações. A síncope é considerada um marcador de gravidade e estes pacientes são considerados classe funcional III ou IV. A hemoptise e a rouquidão (por compressão do nervo laríngeo recorrente por ramos dilatados da artéria pulmonar) são sintomas incomuns.(1)

Quadro 2 - Classificação funcional da New York Heart Association modificada para HP/ Organização Mundial de Saúde

CLASSE I: pacientes com HP, mas sem limitação das atividades físicas. Atividades físicas habituais não causam dispnéia ou fadiga excessiva, dor torácica ou pré-síncope.


CLASSE II: pacientes com HP resultando em discreta limitação das atividades físicas. Estes pacientes estão confortáveis ao repouso, mas atividades físicas habituais causam dispnéia ou fadiga excessiva, dor torácica ou pré-síncope.


CLASSE III: pacientes com HP resultando em importante limitação das atividades físicas. Estes pacientes estão confortáveis ao repouso, mas esforços menores que as atividades físicas habituais causam dispnéia ou fadiga excessiva, dor torácica ou pré-síncope.


CLASSE IV: pacientes com HP resultando em incapacidade para realizar qualquer atividade física sem sintomas. Estes pacientes manifestam sinais de falência ventricular direita. Dispnéia e/ou fadiga podem estar presentes ao repouso, e o desconforto aumenta em qualquer esforço.


HP: hipertensão pulmonar

Os achados do exame físico do paciente são bastante variáveis de acordo com o estágio da doença: desde um aspecto normal até a presença óbvia de sinais de insuficiência cardíaca direita (edema de membros inferiores, hiperfonese de P2, turgência jugular, hepatomegalia).

Alguns achados ao exame físico podem con-tribuir para a identificação de eventual causa as-sociada à HAP. A presença de baqueteamento di-gital é incomum na HAPI, sugerindo associação com cardiopatia congênita. Alterações cutâneas, telangectasias e esclerodactilia impõem a investi-gação de doenças do tecido conjuntivo. A hipoven-tilação como causa da HP deve ser investigada principalmente nas pessoas obesas ou com defor-midade da caixa torácica.

Abordagem diagnóstica

Na suspeita de hipertensão pulmonar, a abor-dagem diagnóstica envolve a resolução de alguns aspectos fundamentais: confirmação do diagnós-tico de hipertensão pulmonar; exclusão de causas associadas; e avaliação da gravidade.

A confirmação do diagnóstico usualmente se inicia com a realização de exames complementa-res como o eletrocardiograma e o radiograma de tórax.

No eletrocardiograma os achados sugestivos são: desvio do eixo para a direita; detecção de onda P pulmonale; bloqueio do ramo direito; rela-ção R/S > 1 em V1; qR em V1; rSR' em V1; e alte-ração da repolarização ventricular nas derivações precordiais direitas. Sinais de hipertrofia ventricular direita e desvio do eixo para a direita são observa-dos em 87% e 79% dos casos, respectivamente, nos pacientes com HAPI. Quanto maiores os ní-veis pressóricos na circulação arterial pulmonar, maior a sensibilidade do eletrocardiograma na detecção destes achados sugestivos.(1)

O radiograma de tórax é um método pouco sen-sível, que permanece normal, principalmente nos pacientes assintomáticos. Contudo, alguns acha-dos podem ser sugestivos de hipertensão pulmo-nar como aumento no diâmetro dos ramos da ar-téria pulmonar, abaulamento do arco médio e po-breza vascular periférica.(1) É também bastante útil para afastar diagnósticos secundários como do-enças do parênquima pulmonar ou anormalidades da caixa torácica.

O ecocardiograma bidimensional transtorácico com doppler é o método não-invasivo mais sensí-vel para investigação da HP, além de ser um instru-mento valioso para a exclusão de causas cardía-cas associadas.

A pressão sistólica da artéria pulmonar medida pelo ecocardiograma correlaciona-se positivamente com a pressao media da arteria pulmonar, medida de forma invasiva.(21) Seus valores sofrem influen-cia da idade e do indice de massa corporea, po-dendo estar elevada, sem no entanto representar HP.(22) Levando-se em conta os diferentes valores assumidos para se definir HP na literatura, a sensibi-lidade e a especificidade da pressao sistolica da arte-ria pulmonar, medidas pelo ecocardiograma, variam de 0,79 a 1,00 e 0,6 a 0,98, respectivamente.(21, 23-24)

Em um estudo recente, a pressao sistolica da arteria pulmonar maior que 38 mmHg, medida por cateterismo direito, correspondeu a pressao media da arteria pulmonar maior que 25 mmHg.(25) As-sim, pode-se considerar valores de pressao sistolica da arteria pulmonar superiores a 35 mmHg pelo ecocardiograma como sugestivos de hipertensao pulmonar, porem faz-se necessaria a confirmacao atraves da medida invasiva.

A pressao sistolica da arteria pulmonar e esti-mada pelo ecocardiograma com doppler atraves da medida do jato de regurgitacao tricuspide (TR). A equacao modificada de Bernoulli [Ģp = 4(TR2)] converte esta medida de fluxo em uma estimativa de pressao. A pressao sistolica de ventriculo direi-to (PSVD) pode ser estimada adicionando-se a pressao de atrio direito (PAD): [PSVD = 4(TR2) + PAD]. Nao existe padronizacao da medida da pres-sao de atrio direito. Alguns utilizam valores entre 5 a 20 mmHg, enquanto que outros a estimam atraves da medida ecocardiografica do colapso da veia cava inferior.(26)

Alem da medida estimada da pressao arterial pulmonar, outros achados sugestivos que corrobo-ram o diagnostico de hipertensao pulmonar sao: aumento de camaras direitas, insuficiencia tricuspi-de, e movimento paradoxal do septo ventricular. Em fase mais avancada da doenca pode haver di-minuicao da complacencia do ventriculo esquerdo.

Cardiopatias congenitas, disfuncao ventricular esquerda e doencas valvares tambem sao causas de HP e podem ser identificadas pelo ecocardiograma.

Na presenca de HP, de causa nao identificada, sugere-se a realizacao de pesquisa de shunt intra-cardiaco atraves do ecocardiograma com contraste (microbolhas). A constatacao de shunt intracardiaco determina a necessidade de melhor estudo anatomico atraves do ecocardiograma transesofagico.(27)

Uma vez confirmada a hipotese de hipertensao pulmonar atraves do ecocardiograma, deve-se ca-minhar para a avaliacao complementar destes doentes com o intuito de se esclarecer a etiologia.

As provas de função pulmonar são também mandatórias, uma vez que podem detectar dis-túrbios ventilatórios associados a várias doenças pulmonares (doença pulmonar obstrutiva crônica, doenças intersticiais) que, aliadas à hipoxemia, podem ser a causa da hipertensão pulmonar. Tam-bém permitem avaliar alguns achados comuns na hipertensão pulmonar como a redução da capaci-dade de difusão do monóxido de carbono.

A tomografia computadorizada de tórax permi-te a avaliação conjunta da circulação pulmonar (angiotomografia) e do parênquima. Também auxi-lia nos diagnósticos diferenciais com o sarcoma de artéria pulmonar, compressão extrínseca dos vasos pulmonares, mediastinite fibrosante, entre outras situações.(28) O calibre da artéria pulmonar, a rela-ção artéria/brônquio e a presença de derrame pericárdico associam-se com a gravidade da HP.

O tromboembolismo pulmonar crônico hiper-tensivo (TEPCH) sempre deve ser excluído como causa de HP sem etiologia identificada. Alguns acha-dos tomográficos sugerem este diagnóstico: aumen-to ventricular direito, dilatação de artérias pulmo-nares centrais, presença de trombos excêntricos nos ramos centrais, áreas de infarto pulmonar e padrão em mosaico. Entretanto, a ausência destes achados não exclui o diagnóstico de TEPCH.(28-29)

A cintilografia pulmonar de ventilação/perfusão em pacientes com hipertensão pulmonar rela-cionada ao tromboembolismo pulmonar crônico geralmente mostra um ou mais segmentos com defeitos de perfusão, porém com ventilação preser-vada. Uma cintilografia normal torna o diagnósti-co de TEPCH improvável. Em três estudos de cintilografia V/Q a sensibilidade em diferenciar HAPI e TEPCH variou de 90 a 100% e a especificidade de 94 a 100%.(30-33) Apesar da cintilografia ainda ser o exame inicial de escolha para o diagnóstico de TEPCH, subestima a sua gravidade.

Alterações cintilográficas compatíveis com TEPCH podem ser observadas em outras situações, como no sarcoma de artéria pulmonar, nas vasculites de grandes vasos pulmonares, nas compressões extrínsecas e na doença veno-oclusiva.(34,35)

A angiografia convencional deve ser realizada apenas nos casos em que a investigação inicial for inconclusiva ou ainda após o diagnóstico de TEPCH, para planejamento cirúrgico adequado.



Figura 1 - Algoritmo diagnóstico nos pacientes com suspeita de hipertensão pulmonar

ECO: ecocardiograma; RX: radiograma; V/Q: ventilação e perfusão; FAN: fator antinúcleo; FR: fator reumatóide; ANCA:anticorpo anticitoplasma de neutrófilo; HIV: vírus da imunodeficiência humana; PPF: exame protoparasitológico de fezes; DPOC: doença pulmonar obstrutiva crônica; AIDS: síndrome da imunodeficiência adquirida; HP: hipertensão pulmonar.

O reconhecimento dos distúrbios de sono como causa possível de hipertensão pulmonar torna ne-cessária a realização da polissonografia para a ex-clusão deste diagnóstico em pacientes que apre-sentem sintomas característicos.(36) Mais recente-mente, tem-se sugerido a medida da saturação de oxigênio durante a noite como exame inicial, re-servando-se a polissonografia para uma segunda etapa.

Exames laboratoriais são indicados para inves-tigação de doenças do tecido conjuntivo (fator antinúcleo e fator reumatóide), avaliação da fun-ção tireoidiana e pesquisa do vírus da imunodefi-ciência humana.

Nos pacientes com epidemiologia positiva para esquistossomose, a investigação deve ser feita atra-vés da pesquisa de ovos pesados no exame pro-toparasitológico de fezes, biópsia de valva retal, sorologia e ultra-sonografia de abdome.

A ultra-sonografia de abdome também é impor-tante para afastar a cirrose hepática com hipertensão portal, que caracteriza a hipertensão porto-pulmonar.

Como a avaliação complementar nestes doentes inclui vários exames, tem-se proposto um algoritmo de investigação diagnóstica nos pacientes com sus-peita de hipertensão pulmonar, de modo que se per-mita um diagnóstico precoce, e acurado, porém o menos dispendioso e invasivo possível (Figura 1).

É importante ressaltar a relevância de que a avaliação diagnóstica seja feita de forma comple-ta, a fim de permitir a correta classificação do pa-ciente. Somente dessa forma o tratamento pode ser instituído de maneira adequada e, principal-mente, baseado em evidências.

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